05 outubro, 2012

Enquanto o mundo decaí, nos amamos

 
 
 
Me beija de um sabor cambiante,
sibilante prelúdio de suspiros

de nosso apogeu gozo e extâse,
escrevemos canções com o suor de nossas peles gotejantes
manchando os lençóis das inefáveis vitais palavras,
mergulhando-nos no casulo de nossos corpos unidos
num único espaço e tempo.


Me beija,
lhe beijo
nestes beijos,
enquanto gira
á órbita,

nos amamos.

Enquanto o mundo decaí
enquanto morre mais um,
enquanto nasce outra semente
enquanto sorriem ou choram,

nos amamos.

Enquanto descobrem a cura do cânçer, um novo planeta,
uma nova célula, um novo presságio para o fim do mundo,
alguma tagarelice sórdida das religiões, enquanto tudo
evolui e se afoga,

nos amamos.

Enquanto o país é condicionado pelas leis mais absurdas

nos amamos.

Enquanto uma passeata revolucionária invade as ruas
com bandeiras e caras pintadas, socos e ponta pés, gritos e
sangue nos asfaltos e greve para todos os lados,

nos amamos.

Enquanto o mundo decaí,
nos amamos.

Enquanto, um tiro encontra um peito, outro e outro e outro.
nos amamos, amamos, amamos.

O tempo gira;

em nossas bocas
congela,

derrete no fogo
ardil dos cânticos latentes,
em sucessividade transcendente dos plurais
de agoras, onde somos um único corpo no
sexo de nossas almas em singela comunhão
dos mais belos pecados, meu corpo sente á sede do teu,
minha boca ávida da mesma sede da tua boca.


Enquanto nos amamos,
o mundo gira o tempo muda,
enquanto tudo corre

nos amamos.

Entrando perna na perna, braço no braço
aracnídea forma, metamorfoseada
no prazer lúbrico e profundo.
sorrindo aliviados, libertos,

enquanto o mundo decaí
nos amamos...

Carlos Orfeu
3/10/2012