11 dezembro, 2012

O CASO SUSPEITOSO



                      As más línguas da cidade falam que Elza se achava de namoro com o dono da farmácia. A moça, então, esquia e faceira no esplendor da idade, ia ganhando novas medidas no passar dos meses. Já prevendo um rebuliço do cão, o moço - matreiro que nem cobra - tratou logo de arrumar remédio milagrento pra fazer abaixar ventre crescido. Dias após ingerir o elixir amargo, Elza foi minguando, minguando até que, exaurida de forças e de animo, fechou os olhos esbranquiçados sem esboçar a menor intenção de abri-los de novo. Algumas pessoas que estiveram onde se pranteia de preto e se fala na ponta dos gestos, dizem que ele não derramou nenhuma lágrima quando a moça partiu toda enfeitada de flores.

Fabiano Silmes

05 outubro, 2012

Enquanto o mundo decaí, nos amamos

 
 
 
Me beija de um sabor cambiante,
sibilante prelúdio de suspiros

de nosso apogeu gozo e extâse,
escrevemos canções com o suor de nossas peles gotejantes
manchando os lençóis das inefáveis vitais palavras,
mergulhando-nos no casulo de nossos corpos unidos
num único espaço e tempo.


Me beija,
lhe beijo
nestes beijos,
enquanto gira
á órbita,

nos amamos.

Enquanto o mundo decaí
enquanto morre mais um,
enquanto nasce outra semente
enquanto sorriem ou choram,

nos amamos.

Enquanto descobrem a cura do cânçer, um novo planeta,
uma nova célula, um novo presságio para o fim do mundo,
alguma tagarelice sórdida das religiões, enquanto tudo
evolui e se afoga,

nos amamos.

Enquanto o país é condicionado pelas leis mais absurdas

nos amamos.

Enquanto uma passeata revolucionária invade as ruas
com bandeiras e caras pintadas, socos e ponta pés, gritos e
sangue nos asfaltos e greve para todos os lados,

nos amamos.

Enquanto o mundo decaí,
nos amamos.

Enquanto, um tiro encontra um peito, outro e outro e outro.
nos amamos, amamos, amamos.

O tempo gira;

em nossas bocas
congela,

derrete no fogo
ardil dos cânticos latentes,
em sucessividade transcendente dos plurais
de agoras, onde somos um único corpo no
sexo de nossas almas em singela comunhão
dos mais belos pecados, meu corpo sente á sede do teu,
minha boca ávida da mesma sede da tua boca.


Enquanto nos amamos,
o mundo gira o tempo muda,
enquanto tudo corre

nos amamos.

Entrando perna na perna, braço no braço
aracnídea forma, metamorfoseada
no prazer lúbrico e profundo.
sorrindo aliviados, libertos,

enquanto o mundo decaí
nos amamos...

Carlos Orfeu
3/10/2012

20 setembro, 2012

Hypnos

Hey Musa, eis que voce vem entoar o que so a poesia espreita das confissoes que nao sao feitas o que so a poesia enxerga nos amores que se acovardam Hey musa, eis que me tomas de modo avassalador pra despir Meu paralelo imaginario alado Tua violencia é saudavel e perdoavel tua velocidade provoca estragos nestas ondas de marasmo que tentam me deter Tua forma de amar as palavras e conduzi-las com fogo e Tua forma de emoldurar segredos os tornam ao mesmo tempo reluzentes e vulneraveis Se meus pés correrem contigo e Se minha voz se afinar a tua Todos os riscos nao passarão de agradaveis surpresas e indeleveis arranhaduras, num extasiante caminho sem volta por estes ternos ´sóis que nos impelem. Eczuvia Magenta 2012/Poemista.
http://www.youtube.com/watch?v=0ckIulg1DfQ

Lápide-Carta

Bloqueio desbloqueio acelera e depois freio,freio contenção repetição Desatino Destino, Raio-fogo em frenesi Um sorriso castanho-cobre que arranha sem querer noção dessa Dor alada que provoca imageticas peregrinações; No meio desta rua que é a mais longa por onde ja andei, passei os dias de chuva quase todos camuflado e Deus sabe como tive que renegar letras-sensações e minha voz pra voce tornou-se a 17 voz inconfessa ou Disfarce, por que era verdadeira mas pra sempre oculta, por mais sangrento que fosse tentar faze-la calar; Pois que a saudade de um segredo nao se mata ,ela nos tortura; e nos anos menos crueis, a vida semeou caminhos,costurando surpresas com espinhos e ate mesmo teci novas peles para em gozo efemero as cicatrizes descansar,enquanto ainda nao encontro saida,neste labirinto; mesmo que algum dia nao haja mais Condenação para essa esperança proibida em meio as heras e NUVENS Voce agora nao pode mais me machucar pois encarregou desta tarefa um passado nao vivido, numa sentença muda que lateja portanto o coração segue como um pareador de diferentes sinais e O maior dom subsiste com intensidade apenas quando a lembrança irrompe comportas desafiando sentenças de proibição, Declarando que é apenas livre o maldito caminho para conceber Poesia, QUE mesmo que bela faz-me sentir indecente,vestindo de fragmentos um desencanto de amor nestas póstumas palavras-cruzadas! Poemista Lórien/\Eczúvia Magenta\/Hannar Lorien/\Melian Cordéus. Baú 2005 Revisão 2011. trilha Time and again A-ha http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&v=GN2a42B79TE&NR=1

24 agosto, 2012

Enquanto ás janelas dormem

 
 
 
Escuro.
Luz.
Á única
lâmpada
dançando
na
bruma
enquanto ás
janelas dormem,

 
o poeta
abre,
suas portas
suas fendas
seus universos
jardins,
paisagens filarmônicas
saudando
a noite
o beijo das estrelas
e o sexo dos
anjos.
 
 
 
Carlos Orfeu
22/08/2012
 


16 julho, 2012

O laço da gravata






















Quero calar-me de tal modo

Que o silêncio ainda seja voz

Quero nesse penar profundo
Dizer o que eu sinto sem dizer

Falar a cada coração pulsante
Que seja forte e siga em frente

Quero fingir um riso por dentro
Ainda que minha lágrima desça

E escorra fria pelo nó da gravata
Que me aperta e me deixa sem ar.

 Fabiano Silmes


04 julho, 2012

Misantropia forçada


De verdade...
Tem hora que eu queria sumir
Poder fechar os olhos e relaxar...
Não estar em mais nenhum lugar
Queria algo mais intenso que apenas dormir.

É duro ter que ver e ouvir
As pessoas batendo no peito
Se orgulhando de serem assim
Parece dramático, mas é realmente “o fim”
Se eu tivesse em mãos uma arma
Eu atiraria em todas e
Depois em mim.

Eu vou desabafando
Na esperança de diminuir
Essa angustia de não poder fazer nada
Ou de não saber simplesmente agir

É que tem hora que eu me sinto massacrada
A passagem de ônibus aumenta,
E os motoristas estão cada vez mais ignorantes e imbecis
Acreditando que são donos da empresa
Diferente desse povo que necessita da merda do transporte... Todos os dias.

Os passageiros se desrespeitam
E aplaudem quando um ou outro tenta se impor ao agredir
Os ladrões não tem mais hora pra assaltar
Junto com os trabalhadores, às 6 da manhã,
Eles já estão de pé!
Nas esquinas ou logo ali.

A porra das emissoras de televisão aberta
Que só passam merda e merda e merda!!
“Ipnotraumatizando” os pobres telespectadores
Quase todos sem cultura, sem dinheiro e sem amores...

Você se acha intelectual por ter TV a cabo?
Paga caro pra caralho pra assistir filmes repetidos
E ter acesso apenas a coisas ultrapassadas...
Você só é mais um otário!

Ah, Você se justifica...
Diz que na TV a cabo você tem mais opções interativas
Que assiste BBB e futebol em payper view.
E que paga apenas 39,90!
Ah, vai pra puta que pariu!


E quando se fala de política...
Só matando esse imbecil!
Sai dizendo que é tudo roubalheira
Diz que vai votar em qualquer um
Termina a conversa dizendo que não gosta de política...
E diz que está atrasado pro Show do Zeca Pagodinho,
Que vai ter de graça, na praça.
É
Pois é.

08 junho, 2012

Vita Brevis





Tudo que preciso tenho ao alcance de minhas mãos,
Toda fé de minha alma, fora corroída pelo vinho,
Minha vergonha talvez minha maior virtude,
Leito de quem já não faz diferença.

Deixo ao encargo dos “amigos” contarem minha jornada,
Se um dia servir de exemplo de como não se vive uma vida.
Não quero discípulos, não quero ser lembrado,
... Derrotas, putas, embriagues... Memórias tristes.

Tenho da vida tudo ao meu alcance...
Agora que o jogo parece ter terminado,
Como em uma partida de xadrez,
Declino gentilmente meu “rei” em sinal de derrota.

Como um bom cavalheiro aceno a cabeça,
Como quem diz: “Até breve”
Mais um gole de uísque... Um trago no cigarro...
Enfim a vida me vencer, mas depois de uma árdua batalha.


Por: Eduardo H. Martins
Em: 08/06/2012


09 maio, 2012

Da dor o canto de mel

Late um cão ao acaso.
Escrevo latindo o papel.

Se canta o passarinho em frágil galho.
Escrevo, bebendo do bom canto a dor diluída em
embriagado mel...

No tiro da febril caneta em madrugada
escura.Iluminadas linhas nascem
matando a sede de minhas agruras..


O sol amanhece, na goela do galo.
Trago debaixo da luz os olhos imersos
de noite,e alma cintilante de entardecer

E dos poemas filhos meus imperfeitos, a mim
a qualquer hora é um consolo perfeito.
Vou,buscando a vida á estrada avante,
com muitos esforços, encontrando outros pássaros
me ensinando sempre vôos mais altos.


Carlos Orfeu

07 maio, 2012

Lei e (De)ordem


A Lei!
Há lei?

De quem?
Pra quem?
Ninguém!

A lei reponde
Servir e proteger
É a minha missão.

A população olha
Não fala nada!

É proibido falar:
Lei do silêncio...
É a lei sem lei
Dos xerifes azuis
E de suas chibatas
Semi-automáticas 

Haverá lei um dia?
Haverá justiça amanhã?

E quantos Juans, Carlos,
Marias, lúcias, morrerão
Para que a paz se torne
Realidade?

A lei não responde
Trabalha incansavelmente
Fazendo tudo ao contrário.

 Fabiano Silmes


29 abril, 2012

O Último Gesto

Algum dia não a verá como antes
E seu sorriso será triste e distante

Lembrarás dos momentos passados
E será dor toda a alegria abrasada

Não contentará o teu choro íntimo
E derramará o teu pranto desatado

Porém, com dignidade de quem sofre
Dará o nó a corda com toda serenidade

Então, no gesto último de sua escolha
Olharás para vida e não verá mais nada.

Fabiano Silmes

18 abril, 2012

Voltando a pensar.


É, eu tenho visto e conversado com gente diferente, talvez isso tenha me feito perceber que não há regra nesse jogo de azar que se chama viver.
Não existe certo, nem errado. Há apenas uma certeza de que o certo a se fazer é a mera vontade que se tem. E poder fazer é o verdadeiro milagre divino da vida.
Por isso eu prefiro seguir andando por aí, falando o que eu ainda posso dizer em voz alta para os que ainda tem o dom de ouvir.
O melhor é que não é preciso ter nexo, nem fluxo. É apenas um impulso psicológico de uma mente deturpada e cansada. Ou seja. Um desabafo.

16 abril, 2012

Cidades


 I

Houve um tempo em que me dediquei aos vinis
Pouquíssimo tempo
Essencialmente pós-moderno
Abraço o caos como o Paladino à ordem
Busco no núcleo de todo turbilhão de coisas
A coisa em si, o núcleo duro do Real,
A pulsão de vida, A Vontade primeira.

No caos urbano da cidade me perco e me acho
Andando por seus becos, aliso seu corpo
Na intimidade de dois amantes
Cheiro os seus perfumes e fedores
Em boates no entre-lugar do luxo à sarjeta
Entre o sagrado das catedrais e o profano das ruas
Com seus loucos, mendigos e prostitutas.

Neste mar de cheiros e sensações encontro
o menu que escolherei:
O glamour da zona-sul 
com pitadas da marginalidade que a cerca.
Como um igual proscrito, ando em meio à horda
Dividindo o barril de cerveja holandesa
com o menino de rua.

Pegando cigarros emprestados
Dividindo bocas beijadas
Meu corpo se dissolve aos poucos,
se reintegrando ao cosmos.
Para cair mais uma vez,
com asas (nunca dantes tidas) queimadas

Sabor de cinzas, O odor, A desordem
Me alinho e saio em zigue-zague.
Por outros caminhos.
Sempre por outros caminhos.
Imerso nos sons revoltos da noite,
entre sirenes e buzinas impacientes

Como mais um anjo caído:
Caio, salvo na porta de um bar.

II

Vozes conversadas de manhã
Em bares, padarias
Catete.

Por bancas de jornal, jornais
Contando o cotidiano, simulacro do dia anterior:
“- E os bueiros explodindo?”
É dessa porra que eu gosto!
Caótica e hostil!
Entendo e me compadeço do seu
Medo e Receio.

Senhoras à igreja com crianças ainda sonolentas
levadas pelo braço.
Até o largo do machado.
Desapareço.

III

Pela ponte toda, eu durmo.
Sigo reto, sem sentir 
que troquei de ônibus no moinho.
Sem ver, cheirar ou sentir.

Cheiro Alcântara.
Gritaria de ambulantes,
entre o consumismo apressado de uma manhã,
que antecede ao almoço sacro, Pré-Fausto;
que não é de Goethe.

E como um protagonista de Romero,
sigo trôpego pelas ruas.
Nesta estranha paz,
que permeia as manhãs de domingo
no meu bairro
e o cheiro de flores,
canto de pássaros.

Nada lembra os odores da noite passada:
os perfumes misturados
com bebidas e cigarro na minha rota roupa,
paralelamente, são as únicas lembranças.

IV

E o porto seguro (quando as pernas não mais aguentam): cama.
Que a promessa de ressaca
Arrependimento não traz
E se o fizesse:
o mandaria as favas!
Ou pra puta que o pariu, mesmo.

Provavelmente, não assistirei ao Silva
Comerei o sacro almoço frio e
com as bênçãos de Hipnos, Morpheu, Ícelo e Fântaso
hibernarei com as lembranças:
As minhas amantes,
As cidades.

11 março, 2012

Dentro de mim...



Sinto-me

Mergulho dentro de mim mesma

E busco...

Imerso ali ... No escuro de mim mesma

Na luz de mim mesma...

Sinto...

Sinto um medo, uma angústia, um vazio...

Uma excitação...

Longos fios se aglomeram entre eu e o espaço que ocupo

E o espaço que ainda vou ocupar...

Sentimentos sentidos...

Engavetados e exprimidos...

Causa e efeito...

Cargas que se atraem

Cargas que se repelem...

Sou um núcleo

Chamo e afasto...

E vice versa.

Emito ondas pensantes,

Que se pudesse denominar

Seriam tufões...

Uma série deles...

Movimentando e aglomerando...

Destruindo e construindo...

Sou uma força

Que impulsiona e que transforma...

Mas que também deseja a inércia...

Porque na inércia há ilusão de paz...

E na paz a ilusão de equilíbrio...

E o equilíbrio pra mim,

É essencial.

Ou não?

O que é prioridade?

Ser feliz?

Ou apenas ser alguma coisa,

Manifestar alguma coisa?

Essencial...

Remete-me a sufocar...

E pensando em todos esses devaneios...

Me falta o ar...

Busco...

Dentro de mim mesma

O ar que me falta.



São Gonçalo, 11 de março de 2012.
Beatriz  Peixoto.

05 março, 2012

Versos meus

Ó versos meus
vagam incompreendidos
lambendo as vísceras fétidas
das ruas,como cães malditos
sem lar e acalantos.
Almejam um coração aberto
Almejam um ouvido á escutá-los
Almejam pulmões microfonados
lábios doces ou amargos
Para quem quiser cantá-los
Versos,meus ah...versos
meus.
Almejam dançar,
dançar pelas vias públicas
uivar pelas praças,saraus,quartos,
solidões,dias,tardes,noites.
Sem tempo sem horas há
Chorar nos oceanos de outros
olhos..

Ah,versos meus
partes de mim
esparsos aos ventos,podem ser
desprezados como confretos de testemunhos
de jeová,ou amados como uns bons versos

descendo na alma e afagar.




Vão,versos meus buscando no silêncio


vestidos de palavras,a evolução como pão de cada

dia.Pousar como passarinho na janela de qualquer

coração que deixá-los entrar.

Ó versos meus,não mais meus
agora teus!
Luiz Carlos

15 fevereiro, 2012

Anônimo

Posso ver daqui

os lábios murchos

como aquelas rosas

no canto próximo

a janela.



Posso ver daqui

os olhos fechados

O corpo inchado

na maca fria.



Os braços bem juntos

se cruzando no peito

as cabeças que rodeiam

o corpo, balançam desanimadas

desolados de lado a lado.



Posso ver daqui

meu corpo,meu amanhã talvez

ou alguém parecido com migo

na maca padecendo,esvaecendo

sem documentos para identificação



Quem eras?

Sou eu?

Ali morto?

Sou eu ali

esquecido ?



Ah!,se fores eu

enterra-me logo ali

Perto dos anônimos a vida.



Luiz Carlos