22 novembro, 2010

Observações Cotidianas I


Um dia quem sabe
Irei aprender a lidar
Com essas coisas da vida...
Antes que tudo se acabe
Em míseras fúteis feridas

E quem sabe até
Não descubro amigos
Ou aprendo de vez...
Que amizade é algo
Comparado ao vício
Você tem
Quando pode comprar!

Quando eu aprender...
Talvez o medo de amar
Desapareça
E junto com ele...
Meus eternos amores
Que tanto dei valor
E que tanto me fizeram sofrer

Tudo bem... Admito
Sofri por vontade própria
Só alguém muito desavisado
Pra não entender
Tudo isso é uma bobagem!

Ah, e esse papinho de sentimentalismo
Essa cobrança constante
Sem contar na inveja dos outros
Como sofri por burrice!

Mas um dia quem sabe...
Eu não aprendo de vez
Que a gente tem o que merece ter
E se não temos...
É porque não era importante.

12 novembro, 2010

18.10.2010

Foda-se o que as pessoas pensam!
Cansei de esconder meu sofrimento
Em um sorriso amarelo, enlatado,
Fora do prazo de validade
Como muitas pessoas fazem, ou tentam...
Afinal sou humana!
E sinto e penso e sofro
É disso que a vida é feita.
Eu não sou igual a ninguém,
Apenas tento ser o melhor que posso.
Sinto muito se o meu melhor não é suficiente...
Cansei de ser o que as pessoas esperam
E fingir a mesma felicidade que todos têm.
Agora está na moda ser feliz,
Assim como a “Sra. Vampiro”
Sertanejo universitário,
Comida chinesa e cartão de crédito.
Quem é o que é e não o que era antes?
Quem pode ser?
Quem não pode?
Não tenho mais certeza...
Eu estava também...
Seguia convicta de que seria feliz.
Então ganhei um doce
Que me foi roubado antes que pudesse desembrulhar
Agora sou a criança e me roubaram meu doce.
E eu vou chorar por que estou triste e só!
Queria não ser pisciana,
Mas foda-se o que as pessoas pensam.

08 novembro, 2010

Comunhão


A noite ia alta, e mesmo os pombos da amurada
Dormiam entre as frestas da catedral profana.
Parado no altar, eu dizia a missa,
Enquanto tu te ajoelhaste para fazer a comunhão.
Confessara seus pecados em voz sussurrada,
Em ouvidos molhados e sedentos de teu mel.
Seus lábios rosados se entreabriram,
E te preparaste para receber a hóstia de carne e ódio.
“Tomai e comei”, eu balbuciei no escuro,
“este é meu corpo, reunido todo em aríete”.
Nos esforços de sua língua herética
E de seus dentes afiados como presas,
Te encheste de minha semente acre e impura,
Ajoelhada à beira da ara fatal.
“Tomai e bebei”, ainda consegui deixar escapar,
E meu sêmen escorrendo por seu queixo
É o sinal máximo de sua devoção a mim,
O único sacramento e redenção
Na catedral abandonada pelos santos
E tomada por nossos cheiros doces e ácidos.

01 novembro, 2010

Uma Noite na Taverna



Por Beatriz Peixoto

Movimento, entretenimento ou ideal?

Há indícios, registros de que seja um movimento, assim como se denomina no “blog tavernista”. Porém movido por um ideal.
Um movimento cultural, artístico e que apesar dos precursores deste movimento se colocarem numa postura apolítica, já se faz implícita uma crítica quanto ao regime de sistema hoje no país.
Não há uma preocupação com modismo, não diria ser um evento contemporâneo, mas que tenta criar oportunidades para artistas que iniciam; em abrir espaço para manifestações de criações diversas, valorizando o indivíduo no coletivo.
Pessoas se reúnem ali para buscarem sua identidade, fugir do automaticismo capitalista. Deixando fluir o que vem de dentro, as pessoas não são pudicas, porém procuram respeitar umas as outras. Dentro de uma proposta que converge a uma linha de fuga, no que corresponde a fuga desta massa compacta que a sociedade se molda. Porém, mais importante que criar linhas de fuga, é criar novas formas de existência. As pessoas cada vez mais bombardeadas, até mesmo dentro de suas casas, através da mídia, com todo tipo de dispositivos de poder, são manipuladas, adulteradas e tendo sua subjetividade massacrada pelo “o que está na moda” ou pelo “quem detém o poder”. A visão panóptica faz com que os indivíduos se exercitem ao criar novas “máscaras”, porém deprecia, e não reforça as potencialidades do ser.
Nessa relação de poder em que se perde o ser e se valoriza o ter. As pessoas sensíveis, dentre; os artistas, os que mesmo “inconscientes” percebem como que intuitivamente, este manuseio desenfreado de quem detém o poder, fazendo com que as pessoas percam por várias vezes o seu eixo, tendo que a todo o momento desconstruir e reconstruir sua subjetividade, porém em território novo e que em nada privilegia a qualidade de vida do indivíduo.
Nesses termos, a Taverna vem trazendo um ambiente novo, algo que escapa o cotidiano das relações de poder, algo que escapa do trabalhador sem vez, do “burguês” que nada quer ver além do que foge aos seus interesses. Um território de criação, de amizades, de dar tempo a si mesmo para realizar coisas fora da rotina maquinaria da modernidade.
Digo até, que estas pessoas trazem com esse evento um “ar romântico”, mas não para dizer somente sobre o “belo”, mas para também falar dos “horrores”, e principalmente a dar voz para o que se mantêm calado, para trazer o que não se pode dizer no dia a dia de suas vidas, onde as representações sociais estão vigentes. Onde o panóptico está atuante.
Exercer a livre expressão, a arte da criação, trocar idéias e saberes, ou simplesmente rir, chorar ou ainda se estarrecer juntos, em conjunto promover construções, estabelecer um clima. Um clima de contágio... Um clima de Taverna. Onde não somente as velas que são postas a mesa, estão acesa, mas também os “olhos da percepção”.

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Beatriz Peixoto é artista plástica e estudante de psicologia.