29 junho, 2010

Parceiro da Solidão (Ode ao Velho Safado)

Parceiro da solidão?
Neste quarto apertado
Não me sinto só...

392 discos de vinil

223 CD’s

5 garrafas:
Run Montilla
51
Steinhäger
Licor Estância
Cachaça Magnífica

Alguns livros:
Bukowski
Rodrigo Santos
Rod Britto
Jack Keroauc
Antonio Tolissano

Revista Rolling Stone
Sobre a bancada onde bebo
E escrevo este poema

Meu velho violão

O meu colar Pataxó pendurado na janela

Na parede:
Iggy Pop se contorce
Michael Stype me rejeita
Jim Morrisson me abraça
E dois Wellington de Sousa me enlevam

Tenho o meu mundo de loucura
Minhas dimensões paralelas

Não tenho mulher
Não tenho cão e nem gato

Tenho a velha bailarina de porcelana
De minha mãe

Nick Cave sussurra em meu ouvido
Hoje não tem mensagem no celular
Tenho que fazer compras
Comprar carne e cerveja

Não tenho cartão de crédito
Nem crédito na praça
[a praça me odeia]

Fé eu tenho
Mas não na humanidade

Não tenho dinheiro
Nem carro para buscar companhia

Mas tenho a minha cara-de-pau
Para encarar o mundo do meu jeito.

São Gonçalo, 08 de outubro de 2009.

(bebendo cachaça com guaraná após ler "O Amor é Um Cão dos Diabos", de Charles Bukowski).

22 junho, 2010


Sob a meia verdade
- Wenceslau Teodoro Coral

Sob o véu de penumbras desconhecidas
Optamos pela luz ou pela escuridão
Sobre as páginas de letras opacas
Optamos pelo que é e o que não é

Nossas vidas em um rumo sombrio
Nunca sendo o que desejamos
Sempre buscando a distinção e o brilho
Mostrar-se mais e melhor que todos

Vagar pela linha da distinção, não do ébrio
Vagar pela luz que faz brilhar, não a que ilumina
Vagar pelas usinas nucleares, nunca perto de vagalumes evanescentes
Cair em abismos sem enxergar o fundo, jamais.

Abraçar a loucura nunca é uma opção
Negá-la não é necessário
Necessário é optar pela mesma meia verdade
Sempre. Em qualquer lugar. Para sempre.

Ser meio feliz, meio rico, meio boêmio
Ser meio medíocre, meio hipócrita, meio...
Ser meio herói, meio poeta, meio escritor
Ser meio apaixonado... ter metade de um amor
Sem nunca na verdade ter tido nada.

19 junho, 2010

Sea of Violet Tea


Uma DOBRA na canção:

Não faz muito tempo
Encontrei-te mergulhando os dedos
Na margem mais esquerda do homem que és agora
As tintas refletiam sobre as águas
Um amalgama de teu sorriso e fracasso
Na guia de um futuro indizivel
Qualquer que fosse O nome, a mulher ou a Espada que gozastes
Ou qualquer o ouro que trouxeste
madeixas que olvidas-te

No compor duma canção
Notas secretas ululavam
Fragmentos e pactos num palco xadrez
Inclinados entre o inverno,o volátil e listras
Esquinas além das muitas horas
Teu rosto manchava-se entre cinzas
e
folhas


Aquiesci meu peito
Por trás dos gritos do vento
Na tentativa de abrandar sua voraz velocidade
E o tempo dizia
Marchar sobre contas opacas
Que ao menor choque, deslizavam
Deixando rastros Invisíveis


Imagens da saudade
Doidas e doídas
Recalcitrâncias nossas que nem sequer o vento ousaria calar
E mais leve do que se poderia crer
As palavras se fizeram dança
E tão crianças pareciam
Que encostei meu pensamento envergado á soleira da esperança

Deslizei devaneios
em tua tez de pêssego e vinho
insinuando acidez e maldição
Querências na cor do meu pecado
numa maré verniz

Teu conjugar fez-se ao sereno
Orvalho
Nem mais frio e nem mais quente
Um terço dobrado
duas vezes menos
Que ri e mora
Que canta e chora rumo a casa do horizonte

Ovelha ao matadouro
Flor na violência das Cores

Sobre este quadro
Encostei meu pensamento com reflexo mesclado à via dos sussurros,
numa aquarela em sombreado.


Melian Cordéus&Eczúvia Hannar(direitos reservados)
http://www.youtube.com/watch?v=6lfxPeF-Xbg


www.fotolog.com/poemista
www.acorjavirtual.blogspot.com
www.insignare.blogspot.com

dedicado a alguns que estão a deriva no esquecimento
e para SARAMAGO que agora navega,sem ser ESQUECIDO!

14 junho, 2010

Nossas Memórias

Lembro de um banquete leve para dois,
sabores sensitivos e afrodisíacos,
a malícia de nossas faces marcantes,
bocas provocantes e corpos quentes.
Nos trajávamos com fantasias,
desejoso a abracei intensamente,
o cheiro e calor me excitaram,
seus pêlos arrepiaram
enquanto te agarrei.

Mascarada e coberta deitou-se
em meu divã enquanto a analisava
para descobrir os encantos
um pequeno corpo libidinoso,
que lentamente se despia
provocando-me com seus lábios.

Na longa e extasiante noite
chocolates derretiam aos beijos,
nossas peles atritavam-se
e atingimos o apogeu do prazer.
Acabou-se tudo, mas lembrarei
Que essas são nossas memórias...


- Mensageiro Obscuro.
Abril/2008.


Foto: Foto romântica sem referências encontradas. Adquirida no Google Imagens.

12 junho, 2010

"Tamo junto!"

“Tamo junto!” diz o cantor de multidões
E o guardador de carros te repete: “Tamo junto!”
“Tamo junto!” é o que dizem meus colhões,
Não agüento mais ouvir esse “Tamo junto!”

Não estou junto de ninguém, nasci sozinho,
Único exemplar de uma raça especial e rara.
Carne de primeira, altivo e mesquinho
Acima e além dessa malcheirosa tchandalla.

“Tamo junto!” – diz até o guarda municipal
Prestes ao exercício de coação da propina.
O “Tamo junto!” do político amoral,
que corteja teu voto como a um cabaço de menina.

Estou de saco cheio de ouvir essa cantilena,
Esse “tamo junto” cuspido entre lábios fedorentos.
Por que essa necessidade de caminhar em novena,
Deixem-me sozinho no cadafalso, que tormento!

Para onde me viro, é essa desgraça,
Essa tentativa malfadada de união
Quando nos sabemos caçador e caça,
Água e azeite que nunca se encontrarão.

Por mais que eu fuja dessa ciranda louca,
Esse “tamo junto” me aparece, como uma maldição,
Uma praga rogada nas escadarias da forca,
Uma reza moribunda, tatuagem de prisão.

E a única coisa que me vem à mente
Cada vez que escuto algum paspalho
Me falar essa merda, é responder sorridente:
“Tamo junto é o caralho! É o caralho!”

(...)

E quando meu esquife baixar à sepultura
Ao meu lado um lívido vizinho defunto
Jogado, como lixo, em uma gaveta escura,
Há de suspirar ao meu ouvido: “tamo junto!”

05 junho, 2010

Antipoema (Música e poema)




Antipoema by Pakkatto


Anti-poema (Ou Meu Corpo Pálido)
Rômulo Narducci

Faço meus lábios labirinto,
palavras soltas e abstratas.
Queres amar meu corpo pálido,
a tez marfim de carne flácida.

O meu sorriso embriagado,
o meu olhar atroz perdido,
meus versos mortos, vis, inválidos,
o meu querer tão indeciso.

Vaga o tormento acre e esquálido.
Queres sentar em meus desígnios,
queres amar o meu cadáver
num tom de cólera fino e plácido.

Dos planos faço um anti-poema
de um livro velho e empoeirado,
do vate louco e anti-poeta,
com um tema insípido e castrado.

versão do poema musicada por PAKKATTO. Clique no link e ouça.

01 junho, 2010

Capela

Na escura nave da antiga capela,
Onde o clamor das orações encontra abrigo,
Meus olhos gozavam da visão mais bela:
A da virgem ajoelhada a pedir por um amigo.

Com a alva pele de tua face profanada
Por lágrimas que eram pura ambrosia,
E a silenciosa escuridão quebrada
Pelo fervoroso apelo de tão suave melodia...

Esgueirei-me por entre as sombras da parede
Aproximando-me de tão delicado camafeu
E ouvindo o motivo de, nas orações, tanta sede...

Eram tristes nênias pela morte de seu Romeu...
E, ao ouvir o nome de seu amado –Vede!
O desgraçado que morrera – Maldição! – era eu!