25 outubro, 2010

Rotisseria


Arriar todas os estandartes rotos e puídos
Erguidos por aqueles que deram a cara a tapa antes de nós!
A meio-pau com as bandeiras da poesia social hipócrita,
Escritas por bichas velhas em seu flats em Copacabana!
A meio-pau com as flâmulas da liberdade formal concretista,
Acabar com a poesia arte plástica, poesia é a arte da palavra, porra!
A meio-pau! Bandeiras a meio-pau!

Fazer poesia como quem tece constelações,
Com todo o cuidado de um deus maçon, arquiteto de universos.
Construir versos com a certeza da responsabilidade histórica
Em representar toda uma geração aleijada pelo consumo,
Pelo egoísmo, pela promiscuidade niilista, manada ignara!
Isso é o que somos nós, manada ignara que marcha para o brejo
Cheia de falsa dignidade e vazia de propósitos!
Somos aqueles que ousam levantar a cabeça!
Somos os porta-estandartes de mastros ainda sem flâmula!

Menos estrangeiros no lugar que no momento,
Devemos – é mister que façamos – é imperioso que construamos
Uma nova velha estética, uma poesia que se respeite!
Chega de borboletas na janela, de caminho de violetas,
Chega desses saraus medíocres, malditos,
Reunindo pseudo-intelectuais babões e madames com caras de idiota
Procurando sentido em suas vidas fúteis e prostituídas.
Basta dessa babação de ovo modernista, morte aos Andrade!
Morte aos Andrade, às Lispectors, aos Bandeiras!
Meio-pau com todos os Bandeiras! Meio-pau!

Liberdade, sim! Mas liberdade de fazer o bem, e fazer bem o bem!
Não a libertinagem de escrever qualquer merda e chamar de poesia!
MAIS RESPEITO COM A POESIA! MAIS RESPEITO!
Revolução silenciosa, de almas, não de contas bancárias.
Por uma poesia que resgate o humano em ser, o ser em humano,
Que não passe na goela dos conformados, dos omissos, dos bovinos.
Poesia que não fique bonitinha em um gif animado,
Em uma apresentação com musiquinha enjoada e insossa.
Poesia de redenção, poesia de transmutação!
Não é a poesia que tem que sofrer metamorfose, é o homem!
Deixem de achar poesia bonita,
POESIA NÃO TEM QUE SER BONITA!
A MINHA POESIA NÃO É BONITA!

Que a nova poesia se revele amarga, grossa,
Que escorra espessa pelas sarjetas de nosas almas imundas,
Que entupa de vez os ralos de onde saem as lágrimas.
Que as palavras rascantes te destruam os castelinhos,
Feitos de areia na beira da praia suja de suas esperanças.
Poesia serve para isso, e não para matar a fome!
Poesia não se presta ao papel de representar classe oprimida.
A POESIA NÃO VAI SALVAR MUNDO.
Quando muito, vai salvar você, se você quiser,
Se você se ajoelhar, e chorar, e se humilhar,
E reconhecer socraticamente que você não sabe porra nenhuma da vida,
E que versinhos de alegorias não te fazem melhor.
A culpa dessa desgraça é sua também! Assume a sua cota!
Reconhece o monstro que você ajuda a gerar,
Cada vez que vomita conceitos engessados pela Academia,
Por cima do café espresso e por baixo da Arte.

Longino! Longino! Salva estas almas de alimária!
Mostra-nos o caminho do sublime, da beleza,
Mesmo que a gente não aprenda!
Horácio, somos os novos Pisones, os novos Pisões!
Faça ecoar seus brados através das eras,
Cante com voz de Fênix, cante, cante!
Ouvidos sedentos há, público há, falta-nos a voz!
Somos palha seca prestes a arder com força,
Inflamados por centelhas dos grandiosos incêndios de outrora,
Não essa fogueirinha de merda que aí está!
Essa fogueirinha que não aquece sequer os parcos
E ridículos escoteiros da ruína da poesia.

Está mais do que na hora, vamos todos – não de mãos dadas,
Como queria o itabirano, mas de mãos espalmadas, para dar na cara!
O sacrifício é necessário, sacrifiquemo-nos nas aras da poesia,
Filhos de Abraão, filhos de Jó, filhos de Isis!
Netos bastardos de Nietzsche, de Homero, de Demian!
Vamos construir, com sangue e ódio, uma poética atual,
Que represente a busca dos audazes, não a espera dos omissos.
Que demonstre que ainda há os que buscam a beleza,
E não se curvam à ditadura burra da bunda – da bunda burra!
O agora já se foi, perdido em elucubrações de futuro,
Dos projetos que se construíram há pouco
Não resta sequer o cheiro da tinta e do suor.
Todos de joelhos agora, façamos a comunhão,
A hora da poesia possível já passou,
É chegado o tempo da poesia necessária.

22 outubro, 2010

Até quando, José?

Vamos aturar
um país de ladrões.
Você vai se esconder
nos livros.
Os seus amigos
vão responder
por você.

A literatura ao longe
E a vida bem perto,
mas que nunca se correspondem.
Viver na terra do nunca
do marasmo dessa infância perdida.

Vamos observar
O que fomos
na passividade dos tempos.
Afinal, está difícil respirar
com o advento da corrupção
De nosso ar.

Sua mãe o traiu,
sua mulher o deixou,
seu sonho partiu
E nada mudou.
Até quando, José?

O mundo fechou
os olhos para você.
Mas internamente abriu
As portas do viver.

Ninguém mais lê Drummond
ou ouve música de qualidade.
Não se sabe mais o que é bom
nos parâmetros de nossa verdade.
Na verdade, José,
até quando irão roubar
a sua liberdade?

15 outubro, 2010

Troféu Surreal

Esmurrei um padre pegando sua idolatrada cestinha transbosdando de fé verde, vandalizei o quadro vermelho do ditador gigolô com anarquia preta, também destruí os cabos transmissores daquela emissora televisiva e ainda arranquei umas máscaras sangrantes rindo copiosamente.

Au, Au, ou... ou! Chutei a poltrona, manquei feio. Onomatopéias...

O arame farpado prendeu e rasgou um idiota que insistia em babar fezes enquanto resmungava ferido e amedrontado no quintal. Eu não tenho pena, não tenho mesmo. Que se exploda meu cinismo e sujeira moral, assumo mesmo: te desci a porrada!

Te amarrei para assistir sua desgraça, solei em meu baixo elétrico chorando e gritando desesperadamente e duas cordas grossas de metal arrebentaram cortando seu rosto.

Scarrf! Escarrei uma goma grossa e visceral que te encapuzou nessa podreira toda. Cuspi, sim senhor e foi fodido, você quase se sufocou no meu catarro.

Bati palmas e gargalhei do teu medo, pois te odeio, é puro sadismo meu. Pausa para meu riso! Eu quero rir, cacete! Ha, ha, he, he. Satisfeito!

Posso falar mais alto? Posso sim! Nenhum babaca vai me impedir, não podem te ouvir gritar! Eu tenho o megafone e seus ouvidos vão estourar com minha histeria!

Pingue, escorra nesse show desgraçado onde gerarei insanidade com tanta vodka na idéia, vou colocar a culpa nessa cachaça. Tá eu sei que não é cachaça, trepe com o gargalo!

Eu mato e torturo mesmo, eu te torturei e matarei mesmo na insônia voraz que me prostitui nessa merda fedida. Qual é a tua? Diz pra mim!

Só na minha cabeça você existe. Pare de chorar, é o fim!

Engulo risonho a chave para minha fuga, fico trêmulo com minha confissão amassada na mão, então rasgo o chão para longe do meu rastro rubro. Eles chegarão para nos recolher, não se preocupe. Você não foi escondido, sua cabeça está nessa mão. Já finquei teu corpo como troféu no portão de casa. Enrolei eles por meia hora dando prejuízo no fone deles. Agora eles querem me exibir e já estou devidamente trajado para isso.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto: "Bloody Trophy", troféu feito de sangue humano e sangue animal por Thyra Hilden e Diaz.
Portal da artista: Thyra Hilden

Slides de Copacabana


Gritos repelem o silêncio

Silêncio no mesmo momento desaparece com

algumas gramas de preciosa indiferença

Droga barata em noites como essa



A correr, corre, descalça e seminua

Estava convalescente

Inocência corre por copacabana

Tenta encontrar abrigo em puteiros

Sombras, jardins, marquises, canteiros

A correr de medo, tenta entrar por onde muitos entraram



Encontra uma porta

E em pequena distância encerram a porta,


Ignorância disse baixinho:

Eu, que uma vez te perdi, te condenei a não te achar mais

Armei o teu algoz, e vindo está a te procurar.

O armei de medo, açoites e punhais

É agora um psicopata, já que o amor não encontra...


Desesperou-se, arrancou um naco do dedão do pé

rolou de dor, a compaixão havia se mudado há muito tempo

Foi presa como uma lunática e paralítico era o amor

catatônico, a decidir sim ou não...


Então veio e a facadas matou, depois o medo a carcomeu

No instante da prado júnior de costas no chão morreu

Tentou pegá-la no colo a prostituta, mas há muito a perdeu

mas chorou, pois havia uma vez perdido, só a encontraria morta

em um exame de HIV rezando à nossa senhora …


Inocência foi morta por um admirador secreto

Com muitas punhaladas nas costas

E ontem, com pouca vendagem,

foi notícia no "Meia Hora"


http://aguaparaplantas.wordpress.com/

11 outubro, 2010

Miséria glob(o)alizada



Quando você tem um pouco menos

que nada,

Miséria é salada,

Na boca de político.


Quando você tem apenas o farrapo do corpo

E os pés duros sobre o chão,

Miséria é política,

Na televisão.


Quando você tem um chão frio e sujo,

como cama,

Miséria é projeto do projeto de lei,

Lá na câmara.


Quando você tem fome, frio e um furúnculo

Encravado na bunda,

Miséria é comercial

Do “Criança Esperança”.

Miséria é campanha eleitoral,

Do Lula.


Quando você trabalha de segunda a sábado,

De manhã até a noite.

Miséria é não morar em Copacabana,

Na novela bacana do Manoel Carlos.


Quando você pensa que de sonhar, não é mais capaz,

Miséria é propaganda

Da Petrobrás.

ENCANTAMENTO


Em uma estelar tarde ornada de sonhos,
cintila o alvo cristal do mistério
com vazios raios difusos e mornos,
dentro da pele e da alma sem critério.

Sensação de cometas sobre espáduas,
estrelas pontiagudas como espadas
ferem o corpo do céu desmaiado
e tombam flores lânguidas de Maio.

Há uma névoa misturando o ar úmido,
como a linda nebulosa andaluz
dentro da veia de um vento túmido.

Dentro, antigas Sibilas sinuosas,
feito grandes esfinges orgulhosas
marcham rumo a um êxtase de luz.