08 novembro, 2010

Comunhão


A noite ia alta, e mesmo os pombos da amurada
Dormiam entre as frestas da catedral profana.
Parado no altar, eu dizia a missa,
Enquanto tu te ajoelhaste para fazer a comunhão.
Confessara seus pecados em voz sussurrada,
Em ouvidos molhados e sedentos de teu mel.
Seus lábios rosados se entreabriram,
E te preparaste para receber a hóstia de carne e ódio.
“Tomai e comei”, eu balbuciei no escuro,
“este é meu corpo, reunido todo em aríete”.
Nos esforços de sua língua herética
E de seus dentes afiados como presas,
Te encheste de minha semente acre e impura,
Ajoelhada à beira da ara fatal.
“Tomai e bebei”, ainda consegui deixar escapar,
E meu sêmen escorrendo por seu queixo
É o sinal máximo de sua devoção a mim,
O único sacramento e redenção
Na catedral abandonada pelos santos
E tomada por nossos cheiros doces e ácidos.

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