24 fevereiro, 2011

Poemas Menores - Laranjas




Eu
Simplesmente
Sigo em frente
Por ter fé no caminho

Geralmente
As mentiras fazem sentido
E a realidade não
Não fiques assim ansioso João

A ciência é apenas para a regularidade
A vida é vivida uma vez na verdade
E nem sempre há marimbondos
Na laranjeira à beira da estrada

Procure aprender o que dá pé
Não fiques parado aí então José
Desce do carro e aproveita
Que nem sempre o inimigo espreita

Quem se priva do prazer da vida
Tem mais medo do erro que da morte
Deixará de catar boas laranjas
Por que algumas são azedas?

Vamos com isso
Que o caminho é longo
E há muitas outras frutas
Pela estrada

17 fevereiro, 2011

Gil

Eu, grossa
Você, frio
Debochado e calculista
Convencido e egoísta
Talvez um menino
Na forma adulta
De um terrorista

Ou apenas um sarcástico
Palhaço de circo
Com as palavras
Quase um malabarista

Com a ironia
Faz-se feliz
Apenas por fazer dos outros
Pequenas coisas à sua vista

Maldoso, idôneo
Imbecil e impertinente
Incompatível!
Indecente?
Quero nem saber...
Criatura infame,
Desprezível forma de gente.

11 fevereiro, 2011

DOR

Os momentos morreram
As visões que eu tinha desapareceram
Restando cicatrizes, culpas e muito tempo gasto sem direção
Tarde demais, e nem posso saber o porquê dos meus choros em vão
Mal posso olhar pra mim
Por isso caminho nas sombras
Fugindo dos demônios que eram alimentados por mim
Sem volta, pois não deixei nada para trás
E o mundo que você sacrifica por um abraço
Nada mais é que o prazer da dor

10 fevereiro, 2011

Você Respira Por Aparelhos



Você respira por aparelhos

Se diverte por subterfúgios artificiais

Você come porcarias, ama superficiais

Desejando sobejar coisas saudáveis

Sua saúde é monitorada por aparelhos

Seus aparelhos são artificiais, parentes também

As cores sondam o espaço a procura de som

Enquanto você grita sozinha

Em um banheiro de um motel sujo

Querendo alguém

Que não lhe coma

Que não lhe lamba

Mas que apenas seja

O seu apoio particular para dormir

Você sonha com isso, liga para os teleshops

Vai a mercados, tenta comprar gado

Mas ainda sim...Fazia, da coisa função nunca mais...

Você respira por aparelhos

Aparelhos que são caros

Jogou seu pulmão no lixo do térreo

Aparelhos são mais legais. Morfina

Não dá tempo, você se pergunta

Mas a voz não sai pra perguntar

Você é sua voz, a sua mente é um teleponto

Que você leu, leu, leu,leu e leu para todos

Mas todos esqueceram que você não vive sem seus aparelhos

Você não é mais um programa matinal de alguém

Você é alguém, sem ninguém, sem alguém que também não tem ninguém

E ainda, cortaram sua televisão

Cortaram seus pulsos

Dividiram seu apartamento

Correram do emprego. Furaram seus bolsos

Pularam de um cercado chamado discernimento

Jogando-a oitenta metros da marca, mesma marca

Que outro se jogou, de mais alto, de um lugar mais alto

Você respira por aparelhos

Décimo terceiro andar, você, pros outros Ela

Mas é seu pé, no cimento frio, sim é seu

Com frio, sem coragem pra entrar ou pra sair

Com medo de voar e de subir ou descer depois

Com vergonha de ficar ai, sem ter o que dizer ao porteiro

Mas agora, não terá mais o que dizer

O porteiro lhe viu. Acompanhou sua mandíbula voar

Essa era você, esse era o seu apartamento

Bom, dia... Assustou ao escutar, porque não queria ouvir mais nada

Bom dia

Repetida e metálica voz

Bom dia

Tetraplegia

Você respira por aparelhos.

04 fevereiro, 2011

Estava escrito


Você foge, disfarça, se faz de boba,
Mas sabe que já está escrito
Desde o início dos tempos
Nas montanhas, nos signos do zodíaco,
Reverbera e ecoa pelas ruas da cidade
E não há como escapar:
Eu ainda vou comer você.

Você, com esse seu joguinho viciado,
De sorrir e dizer não querendo sim,
De me abraçar um tempo a mais,
Se afastando e olhando nos meus olhos
Como se eu fosse apenas outro amigos,
Mas você sabe que essa não é a nossa verdade,
Você sabe que ainda vou comer você.

Eu ainda vou comer você
- e você vai gostar muito, pode crer –
Pois eu sou mais do que você esperava
Desde seus sonhos pueris de menina
Quando você abraçava forte o travesseiro,
Mordia os lábios, crispava os dedos,
E chamava por meu nome, mesmo sem sabê-lo.

Eu vou comer você lentamente,
Deixando espaço para que você sinta
Cada passo do processo, cada centímetro,
Dando tempo para você respirar fundo,
E pensar: “eu sempre quis ser comida assim,
Num dia assim, por alguém assim!”,
E eu vou sorrir e palitar os dentes.

Eu vou comer você com fúria,
Com raiva, com o tesão de dez mendigos,
Para você só conseguir pensar:
“Que porra é essa, será que eu fiquei louca?”
De braços pro ar, como em uma montanha russa,
Descabelada, ocupando todos os espaços da cama,
Enquanto meu suor pinga no seu peito.

Eu vou começar pelo seu coração,
Essa caixa molhada de sonhos e ilusões fúteis,
Sentir suas fibras entre minhas presas,
A textura de seu amor em minha língua,
E quando eu pressioná-lo contra o céu da boca
Deixar descer em minha gorja seca
O caldo morno de seu sangue adocicado.

Depois eu vou comer a sua alma,
Translúcida e desfocada como uma nuvem,
Com cicatrizes superficiais e bordas falsas.
Degustarei os seus farrapos como um sommelier,
E já acostumado a paladar tão refinado,
Dificilmente me surpreenderei,
E cuspirei os seus restos em um guardanapo.

Só aí então me alimentarei de seu corpo,
Invólucro de carne marmorizada por decepção.
Isso eu não sei fazer diferente,
E ao acordar de manhã exausta e saciada,
Um sorriso brotará de seus lábios assados
E seus olhos vermelhos irão me encontrar
Fumando mais um cigarro na moldura da alvorada.

Então cumprir-se-á a velha profecia,
Cantada por bardos, entalhada nas tábuas,
Sussurrada em becos escuros, em bares,
Confessada em igrejas sujas e malditas
Desde o início dos tempos, pois estava escrito
Que eu ia comer você.
E que você ia bem gostar.