10 fevereiro, 2011

Você Respira Por Aparelhos



Você respira por aparelhos

Se diverte por subterfúgios artificiais

Você come porcarias, ama superficiais

Desejando sobejar coisas saudáveis

Sua saúde é monitorada por aparelhos

Seus aparelhos são artificiais, parentes também

As cores sondam o espaço a procura de som

Enquanto você grita sozinha

Em um banheiro de um motel sujo

Querendo alguém

Que não lhe coma

Que não lhe lamba

Mas que apenas seja

O seu apoio particular para dormir

Você sonha com isso, liga para os teleshops

Vai a mercados, tenta comprar gado

Mas ainda sim...Fazia, da coisa função nunca mais...

Você respira por aparelhos

Aparelhos que são caros

Jogou seu pulmão no lixo do térreo

Aparelhos são mais legais. Morfina

Não dá tempo, você se pergunta

Mas a voz não sai pra perguntar

Você é sua voz, a sua mente é um teleponto

Que você leu, leu, leu,leu e leu para todos

Mas todos esqueceram que você não vive sem seus aparelhos

Você não é mais um programa matinal de alguém

Você é alguém, sem ninguém, sem alguém que também não tem ninguém

E ainda, cortaram sua televisão

Cortaram seus pulsos

Dividiram seu apartamento

Correram do emprego. Furaram seus bolsos

Pularam de um cercado chamado discernimento

Jogando-a oitenta metros da marca, mesma marca

Que outro se jogou, de mais alto, de um lugar mais alto

Você respira por aparelhos

Décimo terceiro andar, você, pros outros Ela

Mas é seu pé, no cimento frio, sim é seu

Com frio, sem coragem pra entrar ou pra sair

Com medo de voar e de subir ou descer depois

Com vergonha de ficar ai, sem ter o que dizer ao porteiro

Mas agora, não terá mais o que dizer

O porteiro lhe viu. Acompanhou sua mandíbula voar

Essa era você, esse era o seu apartamento

Bom, dia... Assustou ao escutar, porque não queria ouvir mais nada

Bom dia

Repetida e metálica voz

Bom dia

Tetraplegia

Você respira por aparelhos.