“Tamo junto!” diz o cantor de multidões
E o guardador de carros te repete: “Tamo junto!”
“Tamo junto!” é o que dizem meus colhões,
Não agüento mais ouvir esse “Tamo junto!”
Não estou junto de ninguém, nasci sozinho,
Único exemplar de uma raça especial e rara.
Carne de primeira, altivo e mesquinho
Acima e além dessa malcheirosa tchandalla.
“Tamo junto!” – diz até o guarda municipal
Prestes ao exercício de coação da propina.
O “Tamo junto!” do político amoral,
que corteja teu voto como a um cabaço de menina.
Estou de saco cheio de ouvir essa cantilena,
Esse “tamo junto” cuspido entre lábios fedorentos.
Por que essa necessidade de caminhar em novena,
Deixem-me sozinho no cadafalso, que tormento!
Para onde me viro, é essa desgraça,
Essa tentativa malfadada de união
Quando nos sabemos caçador e caça,
Água e azeite que nunca se encontrarão.
Por mais que eu fuja dessa ciranda louca,
Esse “tamo junto” me aparece, como uma maldição,
Uma praga rogada nas escadarias da forca,
Uma reza moribunda, tatuagem de prisão.
E a única coisa que me vem à mente
Cada vez que escuto algum paspalho
Me falar essa merda, é responder sorridente:
“Tamo junto é o caralho! É o caralho!”
(...)
E quando meu esquife baixar à sepultura
Ao meu lado um lívido vizinho defunto
Jogado, como lixo, em uma gaveta escura,
Há de suspirar ao meu ouvido: “tamo junto!”
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3 comentários:
Que isso Rodrigo, ainda me lembro daquele ano de 2003, você era meu professor e eu estava na 5° série... E veja só, TAMO JUNTO até agora...
Relax, estaremos juntos até um dia aê...
:P
Poesia foda, como sempre!
Gostei de assistir a declamação desse poema. Foi divertido.
percebi q era teu antes de chegar na ASSINATURA
a forma de evocar" a malfadada sorte de outros estaremjuntos"
a forma de evocar e ASSINATURA
TE pertencem singularmente!
gostei bastante!
bjo e evoé!
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