27 setembro, 2010

Lançamento do romance "Mágoa", de Rodrigo Santos

No próximo dia 8 de outubro, no evento "Uma Noite na Taverna", o poeta Rodrigo Santos estará lançando seu primeiro romance, o tão esperado "Mágoa".




"O livro é um romance sobre perdas e como lidar com essas perdas, sobre esperança e desespero - diz o autor. "Eu demorei a escrevê-lo, sempre buscando a frase certa, o momentum exato. Minha formação poética me atrapalha um pouco na hora de ser objetivo, e mesmo minha prosa é entremeada por digressões. Mas foi um livro que adorei escrever, e ainda hoje, relendo-o, me divirto e me emociono", completa Rodrigo.

O autor ainda disponibilizou um preview para download gratuito, que pode ser baixado clicando na capa do livro, abaixo.





O livro estará à vendo por R$ 20, e pode também ser adquirido por contato direto com o autor.

*Matéria retirada do Manifesto Tavernista

16 setembro, 2010


Agora sei que sou bem mais d’oque você precisa.
Cansei de implorar por atenção ou migalhas,
Cansei de tentar explicar suas falhas,
E de viver a margem dessa imagem por você construída.

Não sei por que ainda não te mandei pro inferno.
Pois não preciso de seus olhares manipuladores...
...Quando lhes convêm, se fazem sedutores.
De você nada terei alem dessa carência de inverno.

Cansei de deitar com você e deixar um sorriso em seus lábios,
E após o fato consumado, volto a me recolher a minha insignificância.
Nesses momentos me torno um objeto de primeira instancia,
Em outros momentos, quando busco explicações em pensamentos sábios.

Agora sei que quero bem mais d’oque os restos que você me oferece!
Pois faço planos futuros que não incluem você.
Apesar de não saber ainda muito bem o que fazer,
Só quero pôr para fora essa angustia que dentro de mim padece!


Por: Eduardo Henrique
Em: 14/01/2005

Sacrifício

I

Sangue derramado.
Desvelo do sacrificial desejo
momentâneo de um pobre homem.
Santificado o pecado no vértice
algoz da ciência.
Santificado o beijo perdido
e os sonhos proibidos.
Nos arrastamos na poeira do tempo
da ampulheta quebrada
da incondicional paixão.
Um cordeiro não chora na fila
da degola, os lobos choram os
seus filhos perdidos,
o homem chora por si mesmo.
O ar pesa na candura do aço,
o canto anuncia dor e vitória
mas a vitória sempre é adiada
para um amanhã de desejos
nunca realizados.
O gólgota é terra de todos nós,
onde jogamos, bebemos e
somos crucificados, tal qual
filhos apátridas lançados ao mundo.

II

Imola-se vidas: desejo é tudo!
Vontade é tudo! Tesão é tudo!
Consumismo é tudo! Fé se torna
fraca e vendida em templos
que anunciam um Deus em promoção.
A manta nobre cobre o frio do corpo,
mas a alma gelada queima
incondicionalmente quem cruza o caminho
que se dá para um muro de pedras...
Onde está a escada que leva para
o horizonte cantado nos hinos de vitória?
Onde estão os ecos das palavras que
conclamavam e oravam e gemiam e
blasfemavam e prometiam e prometiam e
prometiam...?
Silêncio.

III

Do amanhã de desejos nunca realizados
escreveu-se um livro de poemas
guardado ao filho do sacrificado
que limpará o sangue derramado
de sua própria geração
de descrentes que vagam e rogam,
que trepam com suas dores
e vomitam seus pesares através
de palavras de ordem e compostura
hipócrita de seus sentimentos inacabados.
E com o sangue derramado,
no desvelo sacrificial no desejo do pobre
homem aos seus filhos imersos
nos silêncios de uma sala escura,
santificados serão os seus versos
no vértice do esquecimento de
todas as vindouras gerações de crentes
e descrentes...
imola-se novas vidas
e o sangue novamente é derramado. 

São Gonçalo, 16 de setemebro de 2010. 
 
Tela: Sacrifício de Isaac, Caravaggio.
 

12 setembro, 2010

DOMINGO FILOSÓFICO

Bebendo, fumando, fudendo...
Assim descobrimos que somos seres humanos
E sentimos, mesmo que por poucos momentos.

Mas se quisermos descobrir que “HUMANO”
Quer dizer muitos mais do que:
Relativo ao homem, humanitário.
Podemos...

Todas as idéias questionáveis
Estão diante de nós.
O ser humano é muito mais que carne e osso,
Tivemos um sopro de vida.

A ignorância não é uma benção.
Ignorância é ilusão ou falta de oportunidade!
Conhecimento é uma benção!
E ele está ao nosso alcance, basta querer.

Todos, somos capazes de descobrir a verdade.
Não precisamos de Jornal Nacional ou Globo Repórter.
Precisamos nos questionar.
O que é? Como é? Por que é?

Talvez não existam respostas concretas.
Mas existem perguntas.
O que nos impulsiona ao questionamento
É o que nos transforma em SER HUMANO.

Aquele além dos prazeres e das vontades
Aquele que almoça e janta, ou não...
Mas está ali, sentado a mesa,
Que está entre todos e ninguém.

Existe um abismo dentro do homem
Morrer ou estar morto
Todos andamos e falamos
Alguns já estão mortos.

Até o momento em que descobrem!

Romance Arriscado

Mesmo que estejamos fisicamente distantes estarei emocionalmente próximo,  sei que não sou o mais romântico dos seres e talvez eu não tenha as palavras certas para lhe cativar o entendimento de parte do que se passa em mim, não tenho domínio dessa empatia. Desejo-te pelos meus sentidos  e pensamentos que voam pelas doces e amargas nuvens que engulo durante minhas jornadas simultaneamente enquanto estou em sua presença. Fingiremos que o tempo parou, que não temos expectativas, que somos inocentes descobrindo o amor pela primeira vez, assim seguiremos, ignorando a inconveniente existência de obstáculos entre nós.

Nesse tempo que nos resta assistiremos o pôr do sol e dormiremos antes que ele se erga novamente, celebrando nossos momentos passageiros como se fossem os últimos. Num encontro entre o etéreo e o material negaremos a cobrança de certezas nessa vida tão incerta. Onde a efemeridade existencial que tanto nos fere ainda nos proporciona prazeres na persistência da convicção. Sejamos então corajosos para nos afundar nessa experiência na qual a virtualidade e realidade revelam nosso romance arriscado, que de tão incógnito nos fascina e envolve.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto:  Cena do filme "Asas do Desejo" (Wings of Desire) de 1987.

Perfume


Doce aroma suave como um sonho
e letal como um veneno cigano.
Busco-te raro em um afã medonho
e afogo-me num prazer de oceano.

À tua emanação pura e dolente,
sinto os olhos baços. Em arrepio,
ao mais íntimo do homem, seguem-te
minhas narinas em pleno delírio.

Exalação forte como pilastra
de um templo antigo dentro de minh'alma,
feito um fogo que em meu corpo se alastra.

Por ter como Ideal a Perfeição,
dilacera-me a carne esta paixão,
qual verme a tragar-me com atroz calma.



07 setembro, 2010

Ensaio sobre o Silêncio

Nada se fala sobre o silêncio.
Pois hoje a noite agora é rouca,
Repousa no frio do mendigo
Quando tempo é calha a rachar a boca
Da indiferença que a mesma fecha
Na azia, o silêncio escoa e ecoa.

Assim vem.
Vem. Ó a dor da falta.

A fala falha ao coração

A escrita falha na falta do sim, do medo de ouvir não

E sobre essa mesma falha na fala descreve
Mas sem me dar razão de novos escritos
Sou eu mesmo escrevo porque no final escreve
Escritas não dizem nada. Banal, dizem, se dizem, em vão
Porque há ausência de palavras. Do nada não se ouvem gritos
Sobre hoje.

Na banca o jornal já é entregue
Mas eu mudo, retorno como mármore

E de carrara faço a minha cara, fria de sereno
Porque não escutei nem sim nem não
Não curei a cachaça
Não desfiz o vicio e nem me refiz
Apenas, o silêncio, me deixa a espera
Sem passar com toque de mãos
O corpo espera espessuras
Sussurras, urra entre ouvidos
Gemidos da algo, mas com algas, se cobre o silêncio

Escondido no mar, numa foto na praia
Mas do nada, do nada não se ouvem gritos

E
Apenas tentamos ouvi-lo
Com olhos curtos tentamos vê-lo
A passar pelas bocas, palavras,
mas ausentes, assim é nada
a escrita não é comentada
E como Próspero espera a prosperidade da palavra
Como a velha no tear que teia o tempo

A velha sonata que venha
Ou me libertas ou me mata
Mas ainda sim, a fraqueza do não
Ecoa, com muletas, juntamente ao silêncio
Pois o descontente, até nos olhos se vê
Mas ao silêncio, a indiferença, sequer há interprete
Não se aproxima e também não se repele
É Cegueira que tateia o som
Como principia a caverna
Na qual se fazem imagens
Correm os mortos, montamos pilhas de corpos
Nus, não tão desmortos

Fecha a noite,
Hoje no fim é rouca
Com o chiar das portas das biroscas
Com abrir de padarias e lojas
Esse é o silêncio, o som se faz silêncio
por incrível é silêncio a quebrar o tempo

A buscar o que vejo pelo vidro
Sereno a pedir calor no frio
Sereno que ainda não foi,
Sereno em insensatez do não ouvir dizer
Da falta de coragem de ouvir ou não ouvir
Repousa a ferir então.
Da tua indiferença faço barras no cárcere silêncio agora eu fico…
Mas fico breve. Já morri muitas vezes

E como Houdini, escapei
Mas volto em espasmos
Aos espasmos, vindos, são os raios de sol
Sol que ví na foto. Flor que ví na praia
Dor que me deu silêncio, impreciso no três por quatro,
Não me disfarço como em tocaia. Estou em um mar que não me afoga,
E vivo a sobejar no que não me farto
E eu, tendo a certeza que me desfaço
Entre o que me entrego, na dificuldade que me declaro

06 setembro, 2010

IDADE PRA VOCÊ

A idade foi o maior presente que já ganhei.
Quanto mais nova eu era, mais achava que não. E tive muitas pessoas coerentes comigo para afirmar. Depois de um tempo subindo muito, qualquer descuido é um tombo muito grande. Depois de uma sucessão de tombos conheci o inferno. Engraçado ver que não é como pintam. Durante muito tempo tive medo do escuro e pude ver que tudo isso era em vão. Não é escuro no inferno, mas colorido e vivo como o presente que vivo hoje. Tudo era exatamente do mesmo jeito e tudo se movimentava na mesma velocidade, mas eu parecia estar diferente, mais calma, mais devagar. E por mais que odiasse não tinha escolha, passei alguns anos por lá.
Quanto mais velha eu era, mais achava que não. E comecei aperceber que as coisas andavam ao contrário, cronologicamente. Eu crescia e parecia estar voltando no tempo. Me sentia como uma criança que precisa de proteção, que quer sempre os brinquedos que quebraram, e sempre os parentes que foram embora. Ismália enlouqueceu e eu queria ir com ela.
Quanto mais nova eu era, mas frágil era. Sinto vergonha quando olho para trás e vejo a mancha negra que ficou no caminho, mas não foi de propósito. Eu tentava sobreviver em meio ao mundo que me exigiam, atitudes e ações que todos esqueceram, ou quase todos, e que eu nunca vou esquecer. Antes era tudo divertido, tudo lindo. Tudo limpo! Me sinto um elefante, bem grande, com uma cabeça bem grande e um coração partido.
Quanto mais velha eu era, pude perceber, sentada no chão com as lembranças, que na verdade eu não era nada. Eu simplesmente não era.
E agora não tenho coragem de ter esperança, e finjo que tudo vai ficar bem, por que na verdade eu não era. Mas eu queria muito. Queria muito ser quem não era, mas isso eu só aprendi quanto mais velha eu era. E quando enfim fiquei velha aprendi a ser alguém.

04 setembro, 2010

Caminho do sacerdócio




Voto de trabalho


Não irás pintar nada
além do tempo presente
Se não o perceberes:
Da vida não se faz rascunho.

A vida
rascunhada por escritores
cineastas dramaturgos ou poetas
é tão mentirosa quanto a fotografia de estrelas

A realidade não precisa estar escrita
Em tábuas de salvação ou em romances
Para ser sublime

A vida presente nos assalta
sem pedir licença
diploma mandato ou certificado

A função do artista é a promoção do desconforto
que a luz traz aos olhos há tanto fechados
Promover o grito que acorda a turba
O acorde que transforma
que incita os homens a revelarem a verdade diante de seus olhos
para bem dentro e muito além deles

E o tempo presente?
Este tempo não será teu ofício
Tudo aquilo que hoje é não passará
pelo umbral inexorável do olvido

Trabalharás contra a Entropia
Emitindo luz enquanto a gravidade o puxa
para inspirar, na mentira de tuas fotos,
tiradas à distância,
a mesma beleza nas fotografias de estrelas
que inspiraram este poema.

Eis aqui, senhores, um dos mistérios de nossa fé.