07 setembro, 2010

Ensaio sobre o Silêncio

Nada se fala sobre o silêncio.
Pois hoje a noite agora é rouca,
Repousa no frio do mendigo
Quando tempo é calha a rachar a boca
Da indiferença que a mesma fecha
Na azia, o silêncio escoa e ecoa.

Assim vem.
Vem. Ó a dor da falta.

A fala falha ao coração

A escrita falha na falta do sim, do medo de ouvir não

E sobre essa mesma falha na fala descreve
Mas sem me dar razão de novos escritos
Sou eu mesmo escrevo porque no final escreve
Escritas não dizem nada. Banal, dizem, se dizem, em vão
Porque há ausência de palavras. Do nada não se ouvem gritos
Sobre hoje.

Na banca o jornal já é entregue
Mas eu mudo, retorno como mármore

E de carrara faço a minha cara, fria de sereno
Porque não escutei nem sim nem não
Não curei a cachaça
Não desfiz o vicio e nem me refiz
Apenas, o silêncio, me deixa a espera
Sem passar com toque de mãos
O corpo espera espessuras
Sussurras, urra entre ouvidos
Gemidos da algo, mas com algas, se cobre o silêncio

Escondido no mar, numa foto na praia
Mas do nada, do nada não se ouvem gritos

E
Apenas tentamos ouvi-lo
Com olhos curtos tentamos vê-lo
A passar pelas bocas, palavras,
mas ausentes, assim é nada
a escrita não é comentada
E como Próspero espera a prosperidade da palavra
Como a velha no tear que teia o tempo

A velha sonata que venha
Ou me libertas ou me mata
Mas ainda sim, a fraqueza do não
Ecoa, com muletas, juntamente ao silêncio
Pois o descontente, até nos olhos se vê
Mas ao silêncio, a indiferença, sequer há interprete
Não se aproxima e também não se repele
É Cegueira que tateia o som
Como principia a caverna
Na qual se fazem imagens
Correm os mortos, montamos pilhas de corpos
Nus, não tão desmortos

Fecha a noite,
Hoje no fim é rouca
Com o chiar das portas das biroscas
Com abrir de padarias e lojas
Esse é o silêncio, o som se faz silêncio
por incrível é silêncio a quebrar o tempo

A buscar o que vejo pelo vidro
Sereno a pedir calor no frio
Sereno que ainda não foi,
Sereno em insensatez do não ouvir dizer
Da falta de coragem de ouvir ou não ouvir
Repousa a ferir então.
Da tua indiferença faço barras no cárcere silêncio agora eu fico…
Mas fico breve. Já morri muitas vezes

E como Houdini, escapei
Mas volto em espasmos
Aos espasmos, vindos, são os raios de sol
Sol que ví na foto. Flor que ví na praia
Dor que me deu silêncio, impreciso no três por quatro,
Não me disfarço como em tocaia. Estou em um mar que não me afoga,
E vivo a sobejar no que não me farto
E eu, tendo a certeza que me desfaço
Entre o que me entrego, na dificuldade que me declaro

Um comentário:

Henrique Santos Pakkatto disse...

A última estrofe é soberba. O desfecho exato para um lindo poema. Parabéns!!