28 agosto, 2011
Hoje
Tome esta água colhida das
pálpebras.Tome ó mágoa esta
tristeza nascida da certeza de
um amanhã mais negro como
a tumba esquecida,entrestecidas
são as flores murchas aquecidas pelo orvalho
e ocaso.
Hoje,abandonei antigos sapatos
de sola gasta,de lama e poeira
contornos de antigos caminhos
arranquei do peito,mágoas
ah....Descem água,escorrem
na fronte sórdida,ferida.
Vêm ave da saudade,pousar nesta tarde
onde arde,queima meu peito escancarado
ébrio do Sake barato,nesta alcova em mofo
e odores tabagísticos.
Passa sinos vesperais
Passa ventos
Passa abelha
Passa moça bonita
Passa minha vida
Passa!Passa!
tudo sem dizer adeus
Hoje o cancro lúgubre
me devora,consume sorrisos
não mais dados,consume tinos
sou um manequim sem vida
inerte,jogado num leito suado
surrado,lamentando,dando versos
as paredes surdas,abafando gritos
rasgo meu coração,sangra da poesia
amarga nascendo neste ventre de artérias
Ah!,hoje á dor veio beijar-me
batem na porta
chamam meu nome
não,vou para rua fingir risos
apenas ficarei,aqui nesta tarde de hoje
ardendo em prantos,lendo a lira,da ira
infernal de sofrer sem amar
pela última vez,antes da bala perdida
vir,entrar veloz e atingir o peito escancarado.
Hoje ficarei aqui......
Luiz Carlos
28 de agosto,Queimados 2011
26 agosto, 2011
Coisa preta
A cor desce
do lápis e escorre
para a vida.
O nanquim da discórdia
se chama Brasil.
Lá o racismo sobrevive velado.
Ter preconceito,
a partir da hipocrisia,
não retira a cor dos nossos dias,
embora a paz ocorra de forma colorida.
Brasileiro deveria ser mestre
em ser discípulo da diferença.
Pois se houvesse uma cor que preste
seria uma grande ofensa.
Precisamos lembrar
Que a “coisa” sempre esteve preta
no Brasil!
25 agosto, 2011
Caem dos céus os demônios
Na beira do precipício
No final do crepúsculo
Ela abraçada com a cabeça em meu peito
Chorava copiosamente
Não iria mentir na derradeira hora!
Levantei o rosto colado em meu peito
Não queria comigo ver o fim
E então, apenas lhe confortei
E sussurrei...
- Sabes amada de onde vem os demônios?
Ela mal um não acenou com a cabeça...
- Verdadeiramente amada...
Continuei...
Caem dos céus os demônios
Que outrora eram anjos
Deles os mais belos, os que cantavam a alvorada
E ressonavam daqui ao início dos tempos
De que tudo isso Deus já via
E nesse rodopio e ciranda criança
Eram eles que desciam do céu
E por ter medo do mesmo
Procuravam abrigo debaixo da terra
E quanto mais terra, menos medo do céu havia
Caem do céus aos montes os demônios
Em mil bravios de dores e chagas e tolos
Tolos todos nós homens como eles fomos mais
Digo mais, tolo mais do que eles fomos, pois tememos o céu
Ó vazio céu!
Aos demônios, as lendas, as coisas menores que não existem
E por descrédito fomos ao precipício
Que por subestimo de quão tolo e pequeno ardil
Não nos prepararmos para a fúria
E a possível derrota de deus.
13 agosto, 2011
Apático
06 agosto, 2011
Lágrimas e Flores
Minutos
04 agosto, 2011
Obstetrícia do Caos
O ventre inchado da realidade
Requer mãos impuras e hábeis.
Sujas de algo que não se vê,
E nem pode ser raspado ou lavado.
Contorce-se e geme, a parturiente,
Mordendo os nós dos dedos azuis;
Implora, sopra e se desfaz em sangue
A cavidade platônica e esternutória.
No solo maldito da velha prostituta
Gera-se o embrião entrópico da poiesis.
Já nasce chorando, a maldita aberração,
Expondo as prematuras presas ao lúmen.
Sua complicada partogênese, ao acontecer,
Destrói todas as possibilidades novifraternas,
E, junto com elas, o prazer e as ambições
Da puta velha e banguela, sua mãe.
Que metagene canceroso pôde, com louvor,
Fazer parir o belo monstro de voz esternutória
Do útero seco e gangrenado da anciã,
Do estagnado soma ancestral das palavras?
Faminto, o Zeus-Caim saliva e se delicia
Com sua placenta de celulose, e não satisfeito,
Banqueteia-se com os restos de sua genitora,
Deixando escorrer dos beiços a baba pustulenta.
Já anda – veja só! – o filhote da desgraça...
Arrasta seu bólido carnal pelos guetos,
Flertando com o álcool e com o tabaco,
Dançando réquiens e valsas com graciosidade.
Está a caminho, a criança-fera insaciável,
E nada poderá deter a sua fome e fúria.
Os clientes da antiga prostituta que se segurem,
Pois não há mais espaço para o putamento cultural.
A criança sorri como um deus louco,
Disposta a destruir as fracassadas ideologias
E tomar para si a imagem da poesia,
A poiesis supernova que mudará o mundo.