04 agosto, 2011
Obstetrícia do Caos
O ventre inchado da realidade
Requer mãos impuras e hábeis.
Sujas de algo que não se vê,
E nem pode ser raspado ou lavado.
Contorce-se e geme, a parturiente,
Mordendo os nós dos dedos azuis;
Implora, sopra e se desfaz em sangue
A cavidade platônica e esternutória.
No solo maldito da velha prostituta
Gera-se o embrião entrópico da poiesis.
Já nasce chorando, a maldita aberração,
Expondo as prematuras presas ao lúmen.
Sua complicada partogênese, ao acontecer,
Destrói todas as possibilidades novifraternas,
E, junto com elas, o prazer e as ambições
Da puta velha e banguela, sua mãe.
Que metagene canceroso pôde, com louvor,
Fazer parir o belo monstro de voz esternutória
Do útero seco e gangrenado da anciã,
Do estagnado soma ancestral das palavras?
Faminto, o Zeus-Caim saliva e se delicia
Com sua placenta de celulose, e não satisfeito,
Banqueteia-se com os restos de sua genitora,
Deixando escorrer dos beiços a baba pustulenta.
Já anda – veja só! – o filhote da desgraça...
Arrasta seu bólido carnal pelos guetos,
Flertando com o álcool e com o tabaco,
Dançando réquiens e valsas com graciosidade.
Está a caminho, a criança-fera insaciável,
E nada poderá deter a sua fome e fúria.
Os clientes da antiga prostituta que se segurem,
Pois não há mais espaço para o putamento cultural.
A criança sorri como um deus louco,
Disposta a destruir as fracassadas ideologias
E tomar para si a imagem da poesia,
A poiesis supernova que mudará o mundo.
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