19 maio, 2010

Carne e Álcool


O vinho.
Quem não deslumbra o sabor do vinho
Que percorre o tato carnal do desejo?
Ah, a carne e o álcool são prazeres
Nunca esquecidos por guerreiros,
Plebe e poetas.
A carne.
Quem não ama saborear a carne
Entreaberta na luxúria dos tonéis de cetim?
A bem-amada concubina se entrega
Como a uva se deixa fermentar
Pelo tempo em que todos anseiam.
O álcool.
Ente quase etéreo que flutua
No prazer instintivo jamais esquecido
E se dissolve com o ar
Impregnado do vício carnal do amor.
Deuses amam o vinho,
Demônios dançam sobre o álcool,
Homens e mulheres se consomem
Em atos lascivos frenéticos
Abençoados por deuses e demônios.
A mente e a alma são testemunhas
Dos seres trôpegos entrelaçados.
Carne e alma dissolvidas no álcool.
O gozo, licor dos lúbricos amantes,
É o destilado da vida fermentada.
A carne e o álcool,
O álcool e a carne.
Um subterfúgio ácido,
Uma fusão constante de desejos,
Uma volúpia torta sob toques trêmulos.
Os beijos, são fortes aromas da vivacidade
Que se espalham pela alcova enegrecida.
E, é na alcova gótica dos sentidos,
Que por fim, no murmúrio findo da libido
Carnes exauridas de álcool
Adormecem sorrindo.
Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2002.
.

3 comentários:

Michelle Sill disse...

POesia.
Ilimitada.
Nova.
Sensata.
Linda.
Perfect.
Delícia de leitura.

A foto me parece comercial do bom vinho PERIQUITA. Adoro ele. rsrsrs

michelle disse...

Comentário de outra Michelle,rs: Poesia com muitas imagens, antíteses, gostei muito!!!
Michelle de Oliveira.

michelle disse...

A poesia é altamente expressiva, o que se nota não somente pelas metáforas (“O gozo, licor dos lúbricos amantes, é o destilado da vida fermentada”...),
comparações ( “A bem-amada concubina se entrega como a uva se deixa fermentar”), personificação (Demônios dançam sobre o álcool) , mas principalmente pela mescla de sensações, a expressar-se nos versos “os beijos, são fortes aromas da vivacidade do vinho que percorre o tato carnal do desejo?”. Assim, o leitor cria imagens que passam e perpassam sensações provocadas pelo seleção lexical presente na poesia. Há uma espécie de “clímax”, a notar-se pelo verso “Uma volúpia torta sob toques trêmulos” e, ao final, um aliviar da tensão, a expressar-se nos dois últimos versos “Carnes exauridas de álcool
Adormecem sorrindo.”
Bom, um professor de Literatura meu uma vez disse algo que eu gostei muito: “depois que o escritor termina de escrever algo, o texto não é mais dele”, ou seja, fica passível da interpretação do leitor (que atribui possíveis sentidos ao texto). Propus uma possível interpretação da poesia, rsrsrsrs. Espero que goste, Rômulo. Bjs, Michelle de Oliveira.