24 julho, 2010
LAMENTOS
Este é um dos poucos lamentos que tenho feito ao longo de minha desgraçada vida. Temida e odiada por todos, outrora eu não tinha esse miserável destino. Sim, eu me orgulhava da minha beleza, eu tinha uma pele clara, olhos de um azul profundo, e cabelos dourados que se espalhavam em grandes cachos pelas minhas costas. Uma beleza que causava inveja até mesmo as mais belas deusas. Meu nome, Medusa, que significa sabedora soberana feminina. E esta é minha história, contada por mim.
Um dia, sentada num campo cercada de flores, fui surpreendida por Poísedon, deus dos mares, e numa tentativa de escapar refugiei-me no templo de Atena, do qual eu era sacerdotisa, mas essa deusa deixou-me a sorte do destino, e por Poísedon fui violentada. Não bastasse isso, essa deusa, que todos idolatram por ser justa, a mim, impetrou a maior das injustiças, por ciúmes, achando que eu estivesse disputando o amor de Poísedon, fui vítima da vingança de uma deusa que me transformou nesse ser horrendo que sou hoje.
Tenho a cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas, presas de javali e mãos de bronze e com um olhar que a todos que me fitassem em pedra se transformaria. Assim, fui exilada para Ciméria, país da noite eterna. Reclusa em minhas dores e minha raiva, rejeitada, incapaz de amar e ser amada. Na minha ira, alimentei apenas ódio e vingança. Violada e abandonada restou-me uma única diversão sádica, transformar em pedra todos aqueles que se aproximassem de minhas terras. Aí você deve se perguntar, o que esta ser monstruosa tem a oferecer? E eu lhe direi que dentro de mim encerra a cura e a morte, o sangue que bomba pelo lado esquerdo de meu corpo é um milagroso antídoto a qualquer enfermidade e até mesmo ressuscitar os mortos, enquanto o do lado direito o mais mortal dos venenos.
Hoje eu tiro a vida, com um simples olhar e com prazer. E não posso mudar o que sou, com centenas de anos, a loucura tomou conta de minha mente. E em alguns momentos de lucidez como este é que lamento a tortura ao qual fui imposta. Nunca tive o privilégio de ser amada, e isso é o que mais me dói. Muitas vezes, observo minhas estátuas, alguns guerreiros belos e a ultima feição de seus rostos é do mais tenebroso horror, e choro, choro as lágrimas que ninguém jamais vão as ver.
Mas depois me refaço na minha loucura, e destruo todos que tenham a audácia de me enfrentar, sem a menor compaixão. Meu único alívio é saber que sou mortal e suplico dentro de mim que algum dia surja alguém forte e corajoso o suficiente para acabar de vez com esse meu suplicio e que esse seja um dos meus últimos lamentos.
Caro leitor, após essas palavras, como se Medusa orasse pelo seu fim, surgiu um homem capaz de realizar esse feito: Perseu, após ela destruir a cada um dos seus companheiros, este com a ajuda dos deuses arrancou-lhe a cabeça. Ele acreditava que tinha matado um monstro, mas fez muito mais do que isso, libertou uma alma.
Imagem: Fúria de Titans
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Um comentário:
Olá, linda história. Pra quem gosta de mitologia, isso é algo como a redenção daquela que é considerada um monstro! Magnífico. Somente gostaria de saber o(a) Autor(a). Agradeço por esta ótima leitura.
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