21 abril, 2010

O real em que vivo


Hoje o frio me impeliu
a sonhar.
Escrever o sonho distante
do real em que vivo.
Já não existe lírica
no que antes era sonoro.
Sou a forma rítmica
do que não sou.
O meu positivo
desafia as leis da poesia.
Conheço muito poeta triste
que chora a sua canção.
Eu não.
“A hora mais bela, vem da hora mais triste”
E transformar o feio em belo
é o que faço.
Meu destino era ser “gauche”
como o meu Drummond.
Ou ser contraditório
como o Gregório.
Vou ser modernista,
bairrista? Muito menos do que isso...
Sou simplório
e sofro a influência de quem gosto.
Não por segui-los,
mas acordar no que sinto.
Sentir o laço do abraço
bem apertado da vida.
Sinto cada segundo em minha veia
e esqueço, por um momento,
que não passo de um jovem poeta.
Deixo a minha poesia surgir
com a consciência no futuro.
É o agir insólito
que desafia o soturno.
Reviro o verso
para o anverso desse revirado cotidiano.
Chamam-me de louco sem saber sobre mim,
enquanto espero honesto melhorar o nosso fim.
*poesia do Livro "Interdito", de Rômulo Souza

2 comentários:

Suzane Morais disse...

Olá! Hoje, por um impulso de vida (ou de morte) decidi escrever e para minha surpresa, ao ler o seu poema, foi como se me indagasse o que é real. Ora, é claro que é preciso aceitar essa migalha de realidade que nos é dada todos os dias e tentar transformá-la em algo palatável.
Mas ainda resistia na boca um gosto amargo da mentira e é, por isso, que é preciso escrever poesia:

É preciso

É preciso cair
É preciso correr
É preciso ceder
É preciso sonhar
É preciso delirar
É preciso se embriagar
É preciso poetizar
É preciso cantar as ruínas
de velhos autores
É preciso morrer.
Morrer é preciso?

Rômulo Souza disse...

Primeiro, agradeço ao Taverna pela oportunidade em divulgar o que escrevo no site. E, depois, fico igualmente feliz por ver que a minha poesia pôde dialogar com a sua perspectiva de mundo e na forma como a traduz em arte. Afinal, essa é uma das características do texto poético. Muito obrigado pelo comentário e parabéns por sua poesia, Suzane Morais.

abraço