23 abril, 2010

Crucificado


Já tenho o corpo, a alma e o espírito marcados.
Meu peito ao menos jaz a certeza de algo
que me traz o alívio de noites e dias escarnados.
Estou na Avenida Rio Branco aos uivos e lágrimas
por estenderem meu corpo nu, num crucifixo deitado.

Policiais homossexuais e juizes ditadores
agarram-me com unhas que quimeras e leões
e chupam de minhas chagas todas as malditas dores.
Me coroam como um índio-branco sem sermões
me recordando de que na vida não tive muitos amores.

Os pregos. Ah, os pregos...
Pregos... Três ao menos?
Enferrujados... Como pode?
Olhem a bandeira brasileira!
Ele aguenta? Será? Como?
Os pregos!!! Ah...

... Invadiram minha carne ressecada
onde outro escravo da teia do sistema
deferiu sem piedade as marteladas.
Chorei com um olho só.
Chorei pelos pombos-sem-pena
que vagaram trôpegos a observar meu julgo.

Então, ergueram minha cruz na Praça Cinelândia
com uma singela placa: "Aqui jaz um coitado!"
Aplaudiram um novo programa amental televisivo,
enquanto eu morria onde não era a Disneylândia.
Num poste da "Light" crucificado
com um tênis sem marca corrosivo!


Rio de Janeiro, 15 de abril de 2002.

Um comentário:

Poemista disse...

belissima contundente e comovente Reedição.