24 dezembro, 2010

O NATAL


Tempo de paz, amor e gastar
comer, sorrir e sonhar
o sonho idílico comprar
"baratinho" no Shopping Boulevard

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
E o seu próprio sentido perdido
entre as roupas caras do meu C&A querido.

A árvore com bastante presente
que coisa mais linda e decente...
Papai Noel já vem, sei lá de onde,
deve ser da Disney ou da terra do Conde.

Engraçado, o bom velhinho visita muita gente boa:
os senadores, os banqueiros, os vereadores com uma conta bem gorda.
Porém ele usa vermelho (será que é comunista?),
vamos mudar a cor de seu uniforme para verde-capitalista.

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
Vou gastar meu décimo terceiro, quem diria,
minha cidadania é meu crediário nas Casas Bahia.

Ó que tempo bonito, todo mundo fica um pouco melhor.
É tempo de perdoar: o amigo é mais amigo, esquece-se o que há de pior.
Inclusive o rombo que a prefeita fez no orçamento da prefeitura,
uma brandura, candura, doçura, presença única.

É melhor que época de copa do mundo, é tempo de paz,
cumprimenta-se e fala-se mal por de trás.
Todo mundo é bonzinho, menos o bandido do morro do Alemão
que a Globo me disse que tem que ir pro Caveirão.

Ó Natal, sonhada data comercial,
dai-nos vendas e bastante capital.
E que em 2011 eu me torne um ser humano melhor, ou seja,
pague as dívidas, compre um carro e muita cerveja!

07 dezembro, 2010

Prosa prolixa




Vitamina Repressora contra o vômito maldito
Chafurdam na fronha de uma Boa menina
Que finge não ouvi-los enquanto ouve essa canção:

“Ela “
Sempre adestrada me dizia pra ir dormir
Exortava a “obedecer aos ponteiros”
Certa de que eles me retribuiriam em algum NENHUM DIA
Na verdade com voz mansa e sempre adestrada me ordenava
-VOCE TEM queridinha que querer ir dormir
E ali fazendo cara de frágil e enrustida
Insuflava
-Se você não dormir cedo/.........
-E SE Não pagar as contas em dia/..........
-se Não pedir desculpa aos hipócritas/.......
E nem tecer um vestido de puro linho para qualquer UM /......, jamais a terão por boa companhia

Ela me dizia pra ir dormir e me aconchegar
E logo metralhava mansamente um mar de blábláblás
- não vires a noite
- não mudes a entonação da prece decorada pelos pais EM TEU PEITO ancorada
-não diga palavrão
-finja a Boa educação
-aceite e não discuta TODO E QUALQUER sermão


Ela sobrevivia
Sempre das mesmas culpas
Deliciava-se sobre femininas angústias
Os tempos eram modernos
Mas suas máscaras eram muito atuantes
E os artifícios que Ela usava funcionavam muitas vezes mais do que deviam

Ela me dizia
-vá dormir
-peça licença
-cumprimente o chefe
-sorria para quem te iludiu e finge estender a mão
-desculpe-se com QUEM AINDA lhe deve muitas desculpas
-não tente ser uma má menina SENÃO O Pai NOSSO esquece que é seu pai


Menina tola ainda a caminho de ser A Mulher
Acreditando que Ela “aquela que ordenava e mordia suas vontades” realmente A Sua ATENÇÃO mereceria

Ela “aquela torta e deformada Consciência”
Recusava-se a entender
Que as contas se danavam mesmo quando pagas
Onde se enterravam dez PENDENCIAS Cresciam VINTE E TRINTA
E quando você defende a “Boa ECONOMIA” ALGUÉM FERRA com seu o orçamento Tão certinho...... tão tolinho
Levando nas mesmas águas seus projetos e a folha de ponto no trabalho


Da última vez que
Ainda quando a caminho de SER A Mulher
Esbarrei com a dita cuja “Ela”
Ela mesma protestou contra
Minha ira
Arrogância
Petulância
Minha recém-adquirida mania de pensar que pensava por mim mesma
Vociferou sentenças e castigos mil
Medos medonhos e impronunciáveis
Mais feios que os meus próprios ímpetos

Lembrei-lhe apenas que
Na próxima vez em que sugeri-se a leitura de sua “torta” cartilha
Eu enviaria na sua direção
TODAS AS AGUIAS e tigres ensandecidos
Que habitavam meus calabouços
QUE rasgavam minha garganta e me roubavam o ar
Quando na verdade ao invés de obedecer ao relógio
Ou sei lá.........................
Queríamos todos mesmo
Era PODER
Sem prever destino
PODER VOAR
e perseguir terras a explorar
sem efeitos colaterais
sem hora pra marcar.


Melian Cordéus
http://www.youtube.com/watch?v=W6eqn_LKRLY&feature=related

22 novembro, 2010

Observações Cotidianas I


Um dia quem sabe
Irei aprender a lidar
Com essas coisas da vida...
Antes que tudo se acabe
Em míseras fúteis feridas

E quem sabe até
Não descubro amigos
Ou aprendo de vez...
Que amizade é algo
Comparado ao vício
Você tem
Quando pode comprar!

Quando eu aprender...
Talvez o medo de amar
Desapareça
E junto com ele...
Meus eternos amores
Que tanto dei valor
E que tanto me fizeram sofrer

Tudo bem... Admito
Sofri por vontade própria
Só alguém muito desavisado
Pra não entender
Tudo isso é uma bobagem!

Ah, e esse papinho de sentimentalismo
Essa cobrança constante
Sem contar na inveja dos outros
Como sofri por burrice!

Mas um dia quem sabe...
Eu não aprendo de vez
Que a gente tem o que merece ter
E se não temos...
É porque não era importante.

12 novembro, 2010

18.10.2010

Foda-se o que as pessoas pensam!
Cansei de esconder meu sofrimento
Em um sorriso amarelo, enlatado,
Fora do prazo de validade
Como muitas pessoas fazem, ou tentam...
Afinal sou humana!
E sinto e penso e sofro
É disso que a vida é feita.
Eu não sou igual a ninguém,
Apenas tento ser o melhor que posso.
Sinto muito se o meu melhor não é suficiente...
Cansei de ser o que as pessoas esperam
E fingir a mesma felicidade que todos têm.
Agora está na moda ser feliz,
Assim como a “Sra. Vampiro”
Sertanejo universitário,
Comida chinesa e cartão de crédito.
Quem é o que é e não o que era antes?
Quem pode ser?
Quem não pode?
Não tenho mais certeza...
Eu estava também...
Seguia convicta de que seria feliz.
Então ganhei um doce
Que me foi roubado antes que pudesse desembrulhar
Agora sou a criança e me roubaram meu doce.
E eu vou chorar por que estou triste e só!
Queria não ser pisciana,
Mas foda-se o que as pessoas pensam.

08 novembro, 2010

Comunhão


A noite ia alta, e mesmo os pombos da amurada
Dormiam entre as frestas da catedral profana.
Parado no altar, eu dizia a missa,
Enquanto tu te ajoelhaste para fazer a comunhão.
Confessara seus pecados em voz sussurrada,
Em ouvidos molhados e sedentos de teu mel.
Seus lábios rosados se entreabriram,
E te preparaste para receber a hóstia de carne e ódio.
“Tomai e comei”, eu balbuciei no escuro,
“este é meu corpo, reunido todo em aríete”.
Nos esforços de sua língua herética
E de seus dentes afiados como presas,
Te encheste de minha semente acre e impura,
Ajoelhada à beira da ara fatal.
“Tomai e bebei”, ainda consegui deixar escapar,
E meu sêmen escorrendo por seu queixo
É o sinal máximo de sua devoção a mim,
O único sacramento e redenção
Na catedral abandonada pelos santos
E tomada por nossos cheiros doces e ácidos.

01 novembro, 2010

Uma Noite na Taverna



Por Beatriz Peixoto

Movimento, entretenimento ou ideal?

Há indícios, registros de que seja um movimento, assim como se denomina no “blog tavernista”. Porém movido por um ideal.
Um movimento cultural, artístico e que apesar dos precursores deste movimento se colocarem numa postura apolítica, já se faz implícita uma crítica quanto ao regime de sistema hoje no país.
Não há uma preocupação com modismo, não diria ser um evento contemporâneo, mas que tenta criar oportunidades para artistas que iniciam; em abrir espaço para manifestações de criações diversas, valorizando o indivíduo no coletivo.
Pessoas se reúnem ali para buscarem sua identidade, fugir do automaticismo capitalista. Deixando fluir o que vem de dentro, as pessoas não são pudicas, porém procuram respeitar umas as outras. Dentro de uma proposta que converge a uma linha de fuga, no que corresponde a fuga desta massa compacta que a sociedade se molda. Porém, mais importante que criar linhas de fuga, é criar novas formas de existência. As pessoas cada vez mais bombardeadas, até mesmo dentro de suas casas, através da mídia, com todo tipo de dispositivos de poder, são manipuladas, adulteradas e tendo sua subjetividade massacrada pelo “o que está na moda” ou pelo “quem detém o poder”. A visão panóptica faz com que os indivíduos se exercitem ao criar novas “máscaras”, porém deprecia, e não reforça as potencialidades do ser.
Nessa relação de poder em que se perde o ser e se valoriza o ter. As pessoas sensíveis, dentre; os artistas, os que mesmo “inconscientes” percebem como que intuitivamente, este manuseio desenfreado de quem detém o poder, fazendo com que as pessoas percam por várias vezes o seu eixo, tendo que a todo o momento desconstruir e reconstruir sua subjetividade, porém em território novo e que em nada privilegia a qualidade de vida do indivíduo.
Nesses termos, a Taverna vem trazendo um ambiente novo, algo que escapa o cotidiano das relações de poder, algo que escapa do trabalhador sem vez, do “burguês” que nada quer ver além do que foge aos seus interesses. Um território de criação, de amizades, de dar tempo a si mesmo para realizar coisas fora da rotina maquinaria da modernidade.
Digo até, que estas pessoas trazem com esse evento um “ar romântico”, mas não para dizer somente sobre o “belo”, mas para também falar dos “horrores”, e principalmente a dar voz para o que se mantêm calado, para trazer o que não se pode dizer no dia a dia de suas vidas, onde as representações sociais estão vigentes. Onde o panóptico está atuante.
Exercer a livre expressão, a arte da criação, trocar idéias e saberes, ou simplesmente rir, chorar ou ainda se estarrecer juntos, em conjunto promover construções, estabelecer um clima. Um clima de contágio... Um clima de Taverna. Onde não somente as velas que são postas a mesa, estão acesa, mas também os “olhos da percepção”.

***

Beatriz Peixoto é artista plástica e estudante de psicologia.




25 outubro, 2010

Rotisseria


Arriar todas os estandartes rotos e puídos
Erguidos por aqueles que deram a cara a tapa antes de nós!
A meio-pau com as bandeiras da poesia social hipócrita,
Escritas por bichas velhas em seu flats em Copacabana!
A meio-pau com as flâmulas da liberdade formal concretista,
Acabar com a poesia arte plástica, poesia é a arte da palavra, porra!
A meio-pau! Bandeiras a meio-pau!

Fazer poesia como quem tece constelações,
Com todo o cuidado de um deus maçon, arquiteto de universos.
Construir versos com a certeza da responsabilidade histórica
Em representar toda uma geração aleijada pelo consumo,
Pelo egoísmo, pela promiscuidade niilista, manada ignara!
Isso é o que somos nós, manada ignara que marcha para o brejo
Cheia de falsa dignidade e vazia de propósitos!
Somos aqueles que ousam levantar a cabeça!
Somos os porta-estandartes de mastros ainda sem flâmula!

Menos estrangeiros no lugar que no momento,
Devemos – é mister que façamos – é imperioso que construamos
Uma nova velha estética, uma poesia que se respeite!
Chega de borboletas na janela, de caminho de violetas,
Chega desses saraus medíocres, malditos,
Reunindo pseudo-intelectuais babões e madames com caras de idiota
Procurando sentido em suas vidas fúteis e prostituídas.
Basta dessa babação de ovo modernista, morte aos Andrade!
Morte aos Andrade, às Lispectors, aos Bandeiras!
Meio-pau com todos os Bandeiras! Meio-pau!

Liberdade, sim! Mas liberdade de fazer o bem, e fazer bem o bem!
Não a libertinagem de escrever qualquer merda e chamar de poesia!
MAIS RESPEITO COM A POESIA! MAIS RESPEITO!
Revolução silenciosa, de almas, não de contas bancárias.
Por uma poesia que resgate o humano em ser, o ser em humano,
Que não passe na goela dos conformados, dos omissos, dos bovinos.
Poesia que não fique bonitinha em um gif animado,
Em uma apresentação com musiquinha enjoada e insossa.
Poesia de redenção, poesia de transmutação!
Não é a poesia que tem que sofrer metamorfose, é o homem!
Deixem de achar poesia bonita,
POESIA NÃO TEM QUE SER BONITA!
A MINHA POESIA NÃO É BONITA!

Que a nova poesia se revele amarga, grossa,
Que escorra espessa pelas sarjetas de nosas almas imundas,
Que entupa de vez os ralos de onde saem as lágrimas.
Que as palavras rascantes te destruam os castelinhos,
Feitos de areia na beira da praia suja de suas esperanças.
Poesia serve para isso, e não para matar a fome!
Poesia não se presta ao papel de representar classe oprimida.
A POESIA NÃO VAI SALVAR MUNDO.
Quando muito, vai salvar você, se você quiser,
Se você se ajoelhar, e chorar, e se humilhar,
E reconhecer socraticamente que você não sabe porra nenhuma da vida,
E que versinhos de alegorias não te fazem melhor.
A culpa dessa desgraça é sua também! Assume a sua cota!
Reconhece o monstro que você ajuda a gerar,
Cada vez que vomita conceitos engessados pela Academia,
Por cima do café espresso e por baixo da Arte.

Longino! Longino! Salva estas almas de alimária!
Mostra-nos o caminho do sublime, da beleza,
Mesmo que a gente não aprenda!
Horácio, somos os novos Pisones, os novos Pisões!
Faça ecoar seus brados através das eras,
Cante com voz de Fênix, cante, cante!
Ouvidos sedentos há, público há, falta-nos a voz!
Somos palha seca prestes a arder com força,
Inflamados por centelhas dos grandiosos incêndios de outrora,
Não essa fogueirinha de merda que aí está!
Essa fogueirinha que não aquece sequer os parcos
E ridículos escoteiros da ruína da poesia.

Está mais do que na hora, vamos todos – não de mãos dadas,
Como queria o itabirano, mas de mãos espalmadas, para dar na cara!
O sacrifício é necessário, sacrifiquemo-nos nas aras da poesia,
Filhos de Abraão, filhos de Jó, filhos de Isis!
Netos bastardos de Nietzsche, de Homero, de Demian!
Vamos construir, com sangue e ódio, uma poética atual,
Que represente a busca dos audazes, não a espera dos omissos.
Que demonstre que ainda há os que buscam a beleza,
E não se curvam à ditadura burra da bunda – da bunda burra!
O agora já se foi, perdido em elucubrações de futuro,
Dos projetos que se construíram há pouco
Não resta sequer o cheiro da tinta e do suor.
Todos de joelhos agora, façamos a comunhão,
A hora da poesia possível já passou,
É chegado o tempo da poesia necessária.

22 outubro, 2010

Até quando, José?

Vamos aturar
um país de ladrões.
Você vai se esconder
nos livros.
Os seus amigos
vão responder
por você.

A literatura ao longe
E a vida bem perto,
mas que nunca se correspondem.
Viver na terra do nunca
do marasmo dessa infância perdida.

Vamos observar
O que fomos
na passividade dos tempos.
Afinal, está difícil respirar
com o advento da corrupção
De nosso ar.

Sua mãe o traiu,
sua mulher o deixou,
seu sonho partiu
E nada mudou.
Até quando, José?

O mundo fechou
os olhos para você.
Mas internamente abriu
As portas do viver.

Ninguém mais lê Drummond
ou ouve música de qualidade.
Não se sabe mais o que é bom
nos parâmetros de nossa verdade.
Na verdade, José,
até quando irão roubar
a sua liberdade?

15 outubro, 2010

Troféu Surreal

Esmurrei um padre pegando sua idolatrada cestinha transbosdando de fé verde, vandalizei o quadro vermelho do ditador gigolô com anarquia preta, também destruí os cabos transmissores daquela emissora televisiva e ainda arranquei umas máscaras sangrantes rindo copiosamente.

Au, Au, ou... ou! Chutei a poltrona, manquei feio. Onomatopéias...

O arame farpado prendeu e rasgou um idiota que insistia em babar fezes enquanto resmungava ferido e amedrontado no quintal. Eu não tenho pena, não tenho mesmo. Que se exploda meu cinismo e sujeira moral, assumo mesmo: te desci a porrada!

Te amarrei para assistir sua desgraça, solei em meu baixo elétrico chorando e gritando desesperadamente e duas cordas grossas de metal arrebentaram cortando seu rosto.

Scarrf! Escarrei uma goma grossa e visceral que te encapuzou nessa podreira toda. Cuspi, sim senhor e foi fodido, você quase se sufocou no meu catarro.

Bati palmas e gargalhei do teu medo, pois te odeio, é puro sadismo meu. Pausa para meu riso! Eu quero rir, cacete! Ha, ha, he, he. Satisfeito!

Posso falar mais alto? Posso sim! Nenhum babaca vai me impedir, não podem te ouvir gritar! Eu tenho o megafone e seus ouvidos vão estourar com minha histeria!

Pingue, escorra nesse show desgraçado onde gerarei insanidade com tanta vodka na idéia, vou colocar a culpa nessa cachaça. Tá eu sei que não é cachaça, trepe com o gargalo!

Eu mato e torturo mesmo, eu te torturei e matarei mesmo na insônia voraz que me prostitui nessa merda fedida. Qual é a tua? Diz pra mim!

Só na minha cabeça você existe. Pare de chorar, é o fim!

Engulo risonho a chave para minha fuga, fico trêmulo com minha confissão amassada na mão, então rasgo o chão para longe do meu rastro rubro. Eles chegarão para nos recolher, não se preocupe. Você não foi escondido, sua cabeça está nessa mão. Já finquei teu corpo como troféu no portão de casa. Enrolei eles por meia hora dando prejuízo no fone deles. Agora eles querem me exibir e já estou devidamente trajado para isso.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto: "Bloody Trophy", troféu feito de sangue humano e sangue animal por Thyra Hilden e Diaz.
Portal da artista: Thyra Hilden

Slides de Copacabana


Gritos repelem o silêncio

Silêncio no mesmo momento desaparece com

algumas gramas de preciosa indiferença

Droga barata em noites como essa



A correr, corre, descalça e seminua

Estava convalescente

Inocência corre por copacabana

Tenta encontrar abrigo em puteiros

Sombras, jardins, marquises, canteiros

A correr de medo, tenta entrar por onde muitos entraram



Encontra uma porta

E em pequena distância encerram a porta,


Ignorância disse baixinho:

Eu, que uma vez te perdi, te condenei a não te achar mais

Armei o teu algoz, e vindo está a te procurar.

O armei de medo, açoites e punhais

É agora um psicopata, já que o amor não encontra...


Desesperou-se, arrancou um naco do dedão do pé

rolou de dor, a compaixão havia se mudado há muito tempo

Foi presa como uma lunática e paralítico era o amor

catatônico, a decidir sim ou não...


Então veio e a facadas matou, depois o medo a carcomeu

No instante da prado júnior de costas no chão morreu

Tentou pegá-la no colo a prostituta, mas há muito a perdeu

mas chorou, pois havia uma vez perdido, só a encontraria morta

em um exame de HIV rezando à nossa senhora …


Inocência foi morta por um admirador secreto

Com muitas punhaladas nas costas

E ontem, com pouca vendagem,

foi notícia no "Meia Hora"


http://aguaparaplantas.wordpress.com/

11 outubro, 2010

Miséria glob(o)alizada



Quando você tem um pouco menos

que nada,

Miséria é salada,

Na boca de político.


Quando você tem apenas o farrapo do corpo

E os pés duros sobre o chão,

Miséria é política,

Na televisão.


Quando você tem um chão frio e sujo,

como cama,

Miséria é projeto do projeto de lei,

Lá na câmara.


Quando você tem fome, frio e um furúnculo

Encravado na bunda,

Miséria é comercial

Do “Criança Esperança”.

Miséria é campanha eleitoral,

Do Lula.


Quando você trabalha de segunda a sábado,

De manhã até a noite.

Miséria é não morar em Copacabana,

Na novela bacana do Manoel Carlos.


Quando você pensa que de sonhar, não é mais capaz,

Miséria é propaganda

Da Petrobrás.

ENCANTAMENTO


Em uma estelar tarde ornada de sonhos,
cintila o alvo cristal do mistério
com vazios raios difusos e mornos,
dentro da pele e da alma sem critério.

Sensação de cometas sobre espáduas,
estrelas pontiagudas como espadas
ferem o corpo do céu desmaiado
e tombam flores lânguidas de Maio.

Há uma névoa misturando o ar úmido,
como a linda nebulosa andaluz
dentro da veia de um vento túmido.

Dentro, antigas Sibilas sinuosas,
feito grandes esfinges orgulhosas
marcham rumo a um êxtase de luz.

27 setembro, 2010

Lançamento do romance "Mágoa", de Rodrigo Santos

No próximo dia 8 de outubro, no evento "Uma Noite na Taverna", o poeta Rodrigo Santos estará lançando seu primeiro romance, o tão esperado "Mágoa".




"O livro é um romance sobre perdas e como lidar com essas perdas, sobre esperança e desespero - diz o autor. "Eu demorei a escrevê-lo, sempre buscando a frase certa, o momentum exato. Minha formação poética me atrapalha um pouco na hora de ser objetivo, e mesmo minha prosa é entremeada por digressões. Mas foi um livro que adorei escrever, e ainda hoje, relendo-o, me divirto e me emociono", completa Rodrigo.

O autor ainda disponibilizou um preview para download gratuito, que pode ser baixado clicando na capa do livro, abaixo.





O livro estará à vendo por R$ 20, e pode também ser adquirido por contato direto com o autor.

*Matéria retirada do Manifesto Tavernista

16 setembro, 2010


Agora sei que sou bem mais d’oque você precisa.
Cansei de implorar por atenção ou migalhas,
Cansei de tentar explicar suas falhas,
E de viver a margem dessa imagem por você construída.

Não sei por que ainda não te mandei pro inferno.
Pois não preciso de seus olhares manipuladores...
...Quando lhes convêm, se fazem sedutores.
De você nada terei alem dessa carência de inverno.

Cansei de deitar com você e deixar um sorriso em seus lábios,
E após o fato consumado, volto a me recolher a minha insignificância.
Nesses momentos me torno um objeto de primeira instancia,
Em outros momentos, quando busco explicações em pensamentos sábios.

Agora sei que quero bem mais d’oque os restos que você me oferece!
Pois faço planos futuros que não incluem você.
Apesar de não saber ainda muito bem o que fazer,
Só quero pôr para fora essa angustia que dentro de mim padece!


Por: Eduardo Henrique
Em: 14/01/2005

Sacrifício

I

Sangue derramado.
Desvelo do sacrificial desejo
momentâneo de um pobre homem.
Santificado o pecado no vértice
algoz da ciência.
Santificado o beijo perdido
e os sonhos proibidos.
Nos arrastamos na poeira do tempo
da ampulheta quebrada
da incondicional paixão.
Um cordeiro não chora na fila
da degola, os lobos choram os
seus filhos perdidos,
o homem chora por si mesmo.
O ar pesa na candura do aço,
o canto anuncia dor e vitória
mas a vitória sempre é adiada
para um amanhã de desejos
nunca realizados.
O gólgota é terra de todos nós,
onde jogamos, bebemos e
somos crucificados, tal qual
filhos apátridas lançados ao mundo.

II

Imola-se vidas: desejo é tudo!
Vontade é tudo! Tesão é tudo!
Consumismo é tudo! Fé se torna
fraca e vendida em templos
que anunciam um Deus em promoção.
A manta nobre cobre o frio do corpo,
mas a alma gelada queima
incondicionalmente quem cruza o caminho
que se dá para um muro de pedras...
Onde está a escada que leva para
o horizonte cantado nos hinos de vitória?
Onde estão os ecos das palavras que
conclamavam e oravam e gemiam e
blasfemavam e prometiam e prometiam e
prometiam...?
Silêncio.

III

Do amanhã de desejos nunca realizados
escreveu-se um livro de poemas
guardado ao filho do sacrificado
que limpará o sangue derramado
de sua própria geração
de descrentes que vagam e rogam,
que trepam com suas dores
e vomitam seus pesares através
de palavras de ordem e compostura
hipócrita de seus sentimentos inacabados.
E com o sangue derramado,
no desvelo sacrificial no desejo do pobre
homem aos seus filhos imersos
nos silêncios de uma sala escura,
santificados serão os seus versos
no vértice do esquecimento de
todas as vindouras gerações de crentes
e descrentes...
imola-se novas vidas
e o sangue novamente é derramado. 

São Gonçalo, 16 de setemebro de 2010. 
 
Tela: Sacrifício de Isaac, Caravaggio.
 

12 setembro, 2010

DOMINGO FILOSÓFICO

Bebendo, fumando, fudendo...
Assim descobrimos que somos seres humanos
E sentimos, mesmo que por poucos momentos.

Mas se quisermos descobrir que “HUMANO”
Quer dizer muitos mais do que:
Relativo ao homem, humanitário.
Podemos...

Todas as idéias questionáveis
Estão diante de nós.
O ser humano é muito mais que carne e osso,
Tivemos um sopro de vida.

A ignorância não é uma benção.
Ignorância é ilusão ou falta de oportunidade!
Conhecimento é uma benção!
E ele está ao nosso alcance, basta querer.

Todos, somos capazes de descobrir a verdade.
Não precisamos de Jornal Nacional ou Globo Repórter.
Precisamos nos questionar.
O que é? Como é? Por que é?

Talvez não existam respostas concretas.
Mas existem perguntas.
O que nos impulsiona ao questionamento
É o que nos transforma em SER HUMANO.

Aquele além dos prazeres e das vontades
Aquele que almoça e janta, ou não...
Mas está ali, sentado a mesa,
Que está entre todos e ninguém.

Existe um abismo dentro do homem
Morrer ou estar morto
Todos andamos e falamos
Alguns já estão mortos.

Até o momento em que descobrem!

Romance Arriscado

Mesmo que estejamos fisicamente distantes estarei emocionalmente próximo,  sei que não sou o mais romântico dos seres e talvez eu não tenha as palavras certas para lhe cativar o entendimento de parte do que se passa em mim, não tenho domínio dessa empatia. Desejo-te pelos meus sentidos  e pensamentos que voam pelas doces e amargas nuvens que engulo durante minhas jornadas simultaneamente enquanto estou em sua presença. Fingiremos que o tempo parou, que não temos expectativas, que somos inocentes descobrindo o amor pela primeira vez, assim seguiremos, ignorando a inconveniente existência de obstáculos entre nós.

Nesse tempo que nos resta assistiremos o pôr do sol e dormiremos antes que ele se erga novamente, celebrando nossos momentos passageiros como se fossem os últimos. Num encontro entre o etéreo e o material negaremos a cobrança de certezas nessa vida tão incerta. Onde a efemeridade existencial que tanto nos fere ainda nos proporciona prazeres na persistência da convicção. Sejamos então corajosos para nos afundar nessa experiência na qual a virtualidade e realidade revelam nosso romance arriscado, que de tão incógnito nos fascina e envolve.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.


Foto:  Cena do filme "Asas do Desejo" (Wings of Desire) de 1987.

Perfume


Doce aroma suave como um sonho
e letal como um veneno cigano.
Busco-te raro em um afã medonho
e afogo-me num prazer de oceano.

À tua emanação pura e dolente,
sinto os olhos baços. Em arrepio,
ao mais íntimo do homem, seguem-te
minhas narinas em pleno delírio.

Exalação forte como pilastra
de um templo antigo dentro de minh'alma,
feito um fogo que em meu corpo se alastra.

Por ter como Ideal a Perfeição,
dilacera-me a carne esta paixão,
qual verme a tragar-me com atroz calma.



07 setembro, 2010

Ensaio sobre o Silêncio

Nada se fala sobre o silêncio.
Pois hoje a noite agora é rouca,
Repousa no frio do mendigo
Quando tempo é calha a rachar a boca
Da indiferença que a mesma fecha
Na azia, o silêncio escoa e ecoa.

Assim vem.
Vem. Ó a dor da falta.

A fala falha ao coração

A escrita falha na falta do sim, do medo de ouvir não

E sobre essa mesma falha na fala descreve
Mas sem me dar razão de novos escritos
Sou eu mesmo escrevo porque no final escreve
Escritas não dizem nada. Banal, dizem, se dizem, em vão
Porque há ausência de palavras. Do nada não se ouvem gritos
Sobre hoje.

Na banca o jornal já é entregue
Mas eu mudo, retorno como mármore

E de carrara faço a minha cara, fria de sereno
Porque não escutei nem sim nem não
Não curei a cachaça
Não desfiz o vicio e nem me refiz
Apenas, o silêncio, me deixa a espera
Sem passar com toque de mãos
O corpo espera espessuras
Sussurras, urra entre ouvidos
Gemidos da algo, mas com algas, se cobre o silêncio

Escondido no mar, numa foto na praia
Mas do nada, do nada não se ouvem gritos

E
Apenas tentamos ouvi-lo
Com olhos curtos tentamos vê-lo
A passar pelas bocas, palavras,
mas ausentes, assim é nada
a escrita não é comentada
E como Próspero espera a prosperidade da palavra
Como a velha no tear que teia o tempo

A velha sonata que venha
Ou me libertas ou me mata
Mas ainda sim, a fraqueza do não
Ecoa, com muletas, juntamente ao silêncio
Pois o descontente, até nos olhos se vê
Mas ao silêncio, a indiferença, sequer há interprete
Não se aproxima e também não se repele
É Cegueira que tateia o som
Como principia a caverna
Na qual se fazem imagens
Correm os mortos, montamos pilhas de corpos
Nus, não tão desmortos

Fecha a noite,
Hoje no fim é rouca
Com o chiar das portas das biroscas
Com abrir de padarias e lojas
Esse é o silêncio, o som se faz silêncio
por incrível é silêncio a quebrar o tempo

A buscar o que vejo pelo vidro
Sereno a pedir calor no frio
Sereno que ainda não foi,
Sereno em insensatez do não ouvir dizer
Da falta de coragem de ouvir ou não ouvir
Repousa a ferir então.
Da tua indiferença faço barras no cárcere silêncio agora eu fico…
Mas fico breve. Já morri muitas vezes

E como Houdini, escapei
Mas volto em espasmos
Aos espasmos, vindos, são os raios de sol
Sol que ví na foto. Flor que ví na praia
Dor que me deu silêncio, impreciso no três por quatro,
Não me disfarço como em tocaia. Estou em um mar que não me afoga,
E vivo a sobejar no que não me farto
E eu, tendo a certeza que me desfaço
Entre o que me entrego, na dificuldade que me declaro

06 setembro, 2010

IDADE PRA VOCÊ

A idade foi o maior presente que já ganhei.
Quanto mais nova eu era, mais achava que não. E tive muitas pessoas coerentes comigo para afirmar. Depois de um tempo subindo muito, qualquer descuido é um tombo muito grande. Depois de uma sucessão de tombos conheci o inferno. Engraçado ver que não é como pintam. Durante muito tempo tive medo do escuro e pude ver que tudo isso era em vão. Não é escuro no inferno, mas colorido e vivo como o presente que vivo hoje. Tudo era exatamente do mesmo jeito e tudo se movimentava na mesma velocidade, mas eu parecia estar diferente, mais calma, mais devagar. E por mais que odiasse não tinha escolha, passei alguns anos por lá.
Quanto mais velha eu era, mais achava que não. E comecei aperceber que as coisas andavam ao contrário, cronologicamente. Eu crescia e parecia estar voltando no tempo. Me sentia como uma criança que precisa de proteção, que quer sempre os brinquedos que quebraram, e sempre os parentes que foram embora. Ismália enlouqueceu e eu queria ir com ela.
Quanto mais nova eu era, mas frágil era. Sinto vergonha quando olho para trás e vejo a mancha negra que ficou no caminho, mas não foi de propósito. Eu tentava sobreviver em meio ao mundo que me exigiam, atitudes e ações que todos esqueceram, ou quase todos, e que eu nunca vou esquecer. Antes era tudo divertido, tudo lindo. Tudo limpo! Me sinto um elefante, bem grande, com uma cabeça bem grande e um coração partido.
Quanto mais velha eu era, pude perceber, sentada no chão com as lembranças, que na verdade eu não era nada. Eu simplesmente não era.
E agora não tenho coragem de ter esperança, e finjo que tudo vai ficar bem, por que na verdade eu não era. Mas eu queria muito. Queria muito ser quem não era, mas isso eu só aprendi quanto mais velha eu era. E quando enfim fiquei velha aprendi a ser alguém.

04 setembro, 2010

Caminho do sacerdócio




Voto de trabalho


Não irás pintar nada
além do tempo presente
Se não o perceberes:
Da vida não se faz rascunho.

A vida
rascunhada por escritores
cineastas dramaturgos ou poetas
é tão mentirosa quanto a fotografia de estrelas

A realidade não precisa estar escrita
Em tábuas de salvação ou em romances
Para ser sublime

A vida presente nos assalta
sem pedir licença
diploma mandato ou certificado

A função do artista é a promoção do desconforto
que a luz traz aos olhos há tanto fechados
Promover o grito que acorda a turba
O acorde que transforma
que incita os homens a revelarem a verdade diante de seus olhos
para bem dentro e muito além deles

E o tempo presente?
Este tempo não será teu ofício
Tudo aquilo que hoje é não passará
pelo umbral inexorável do olvido

Trabalharás contra a Entropia
Emitindo luz enquanto a gravidade o puxa
para inspirar, na mentira de tuas fotos,
tiradas à distância,
a mesma beleza nas fotografias de estrelas
que inspiraram este poema.

Eis aqui, senhores, um dos mistérios de nossa fé.

31 agosto, 2010

Reflexão

O bom da vida está em mim
Em viver cada pedacinho de esperança
Em lutar pelas causas e coisas que me deixam feliz
Em estar ao lado daqueles que me querem bem!

O bom da vida está em acreditar
Que o melhor da vida está por vir
Acreditar que o amanhã
Será o melhor que já vivi
E saber que após um dia
Vem uma noite...
E ter a certeza de que ela pode ser
Melhor que ontem
Que estávamos tão felizes...

O bom da vida é existir!
E fazer desta existência
Algo útil
Algo que nós nunca...
Vamos poder repetir

O bom da vida...
É um baú de inúmeras coisas
Que ainda não fizemos juntos.

O bom da vida é também estar aqui!
Perto de você... Te fazendo feliz.

26 agosto, 2010

Poema Mudo




Já escrevi o que deveria falar,
Ainda penso no que poderia dizer,
Por muito tempo pensei por pensar...
... Agora estou entre o “Ser ou não ser”.

Meus olhos falam por si próprios.
Se não falo, palavras doem no peito.
E digo assim, meio sem jeito.
Falecido em êxtase... Em ópio.

Falo bem... Quando sei!
Desabo a falar quando tenho certeza.
Quando digo quem sou, ou que chorei!
Entre papeis espalhados, escritos sobre a mesa.

Quanto tempo tenho para pensar e saber?
Quanto tempo tenho para acordar e dormir?
Entre tanta certeza, eu prefiro esquecer,
Pois talvez um dia alguém se lembre de mim!



Por: Eduardo Henrique
Em: 08/08/2000

23 agosto, 2010

Memória

Estou ficando velho. As rugas da alma já aparecem e me deixam decrépito. Mas uma dúvida persiste em meu ser. Já vi tanta gente ignorar os meus sonhos que permaneço sempre na memória das pessoas pelo esquecimento. Por que não acreditam em mim?
Queria que isso fosse um problema psicológico ou a cisma antiga com a aparência pouco nobre. Sou ignorado justamente no momento em que apoio sonhos alheios. E o meu? Onde estaria? Todos me bombardeiam com críticas destrutivas e esquecem de que a minha memória sempre foi compartilhada.
Deixo a minha mente solta nesses escritos, porque não acredito em controle total sobre si. O humano é demasiado humano para o pragmatismo de nosso cotidiano. E não é a paráfrase de um título de livro que irá sintetizar o que sinto neste momento.
Fui subestimado por estimar demais as pessoas com que convivo. A memória grita ao meu coração e diz que não devia nunca ter escutado conselhos. Chamaram-me de narcisista, porque quis comunicar a individualidade no coletivo. A perversidade sussurou no meu ouvido para dizer: _ Esqueça tudo! Lembre-se de você.

22 agosto, 2010

Sorriso Estampado



Eu não tenho tempo para sofrer

A dor vai doendo enquanto eu sigo

Vou tentando esquecer

Fingindo que nem doeu


Corro para não me alcançar

Viro a cara pra ninguém me ver chorar

O sorriso estampado, corrosivo como acido.

É minha arma e meu veneno


Fugindo para não amar

Correndo para não doer

Quero saber quando vou sentar

E procurar me entender


No meio de tanta proteção

Estou sempre a mercê da queda

Já que não existe esconderijo

Para meu pior inimigo

Que sou eu mesma.



São Gonçalo, 20 de agosto de 2010

Anna Araujo



20 agosto, 2010

A Áspide e o Anjo do Martírio (Ou Reverberações Insanas)


Reverberações insanas ecoam
do frágil e cocho pensamento.
O filho desgarrado caminha
e santifica suas maldições,
pactua com a áspide
e não terá o calcanhar picado.
O sonho submerge no leito
em desejos nunca revelados.
É como a aurora de um dia
nublado, e tão natural
como a danação de minha alma
em chamas, tão natural
como o sorriso inconformado
de uma criança e a rama seca
do deserto do meu espírito.
Cantos de celebração vagueiam
em algum espaço vazio
dentro de uma caixa.
As vozes chamam e convidam
para o banquetes dos mendigos.
A áspide serpenteia e deixa
o seu veneno numa taça cristalina
e sorri suas presas para o
anjo triste do martírio.
As reverberações, a insanidade,
chegam ao ápice e o peso
do corpo cede contra o chão imundo
(onde cospem os caminhantes do destino)
e abraça a terra com suas
memórias e cantigas sombrias.
É natural que o veneno daquela taça
corra em minhas veias cortando
a realidade que se desfaz
diante de meus olhos marejados.

É natural, é tão natural...

São Gonçalo, 18 de agosto de 2010

13 agosto, 2010

D'Evolução




Se não precisa de mim,
Não me chame.
Se não quer me cuidar,
Abandone-me.

Se não me ouve,
Não me pergunte.
Se não quebrara,
Deixe que alguém junte.

Se não acariciar,
Não queira amor.
Se não provocar,
Não exija calor.

Se não me beijar,
Não sentira meu sabor.
Se não pedir,
Não dou, não dou, não dou.

Se não me preferir,
Não me almejou.
Se não decidir,
Não digo que vou.

Se não fingir,
Não te faço gozar.
Se não fugir,
Não vou procurar.

Se não mentir,
Não vou te amar.
Se não ferir,
Não vou chorar.

Se não desistir,
Não partirei.
Se não agredir,
Não crescerei.

Se não me quiser,
Não me distrai.
Se não se vestir,
Não deixe que eu saia.

Se não for feliz,
Não me faça acreditar.
Se não for uma meretriz,
Não fique... Vá... Vá... Vá!

Por: Eduardo H. Martins
Em: 11/08/2010

08 agosto, 2010

Somos todos

A cidade fede a feijão azedo,
E sua capa pegajosa de gordura
Adere aos meus sapatos gastos
Como um apelido cruel de infância,
Ou o olhar insosso dos idosos.

Ao longe soam os tambores dos vencidos,
Ecoando pelas esquinas escurecidas,
Tingidas de sangue e excrementos.
Ao lado me berram palavras da bíblia,
Enquanto velamos a nossa vergonha nua.

A criança que se deita sobre o fidalgo,
O velho que distribui impropérios na praça,
O jovem que chafurda em umbigo próprio:
Esta é a cidade de meus pesadelos,
Esta é a terra natal de minha angústia e choro.

Lua que só no céu brilha e não ilumina,
Esconde as rugas da decepção e dor.
Ônibus catados de pingentes de bijuteria,
Kombis que levam transeuntes como hortifruti,
Semáforos sempre vermelhos para a alegria.

Levo a cidade para casa, em minhas roupas velhas,
E minhas idéias sujas, em meu coração roto,
Minha insistência tatuada na pele seca.
Reflexos de mediocridade soberba, Manchester,
O dormitório onde repousam todas as esperanças.

Ao deitar, escovo de meus ombros, como caspa,
As desventuras de mais um dia na cidade.
Limpo os sapatos das ruas sem asfalto,
E dedilho a lira legada de um padroeiro sacana,
Que convertia as putas da esquina da Matriz.

Encravada entre o céu e a montanha,
Banhada por praias que não iluminam mais,
Amo-te e te odeio, cidade que eu sou,
Porque sou para sempre, somos todos,
E todos vocês são... Gonçalo.

27 julho, 2010





I
Voto de Pobreza

"A poesia não irá lhe deixar rico"
Disse o pai à moça que amava o poeta
"A poesia não irá lhe deixar rico"
Disse o pai do poeta à beira do abismo

Abandonado pelos guardiães do "bom senso"
Ele seguiu apenas a seu coração
E seu coração seguia em frente
Sangrando versos sobre os guardanapos

"A poesia não irá lhe deixar rico"
Urravam os alto falantes do mundo
(sintonizados em alguma mesmice rádio-televisiva
baseada em jabás e em pesquisas de opinião
encomendadas por hábeis marketeiros que não sabem vender poesia
porque precisam pôr
antes de mais nada
um preço modesto por suas almas)

Mas o mundo é vasto para o coração
E o pobre poeta festeja
Seu profano sacerdócio
Ao receber apenas um sorriso sincero e ouvir

"Sua poesia me deixou mais rico"

Eis aqui, senhores, um dos mistérios de nossa fé!

24 julho, 2010

LAMENTOS



Este é um dos poucos lamentos que tenho feito ao longo de minha desgraçada vida. Temida e odiada por todos, outrora eu não tinha esse miserável destino. Sim, eu me orgulhava da minha beleza, eu tinha uma pele clara, olhos de um azul profundo, e cabelos dourados que se espalhavam em grandes cachos pelas minhas costas. Uma beleza que causava inveja até mesmo as mais belas deusas. Meu nome, Medusa, que significa sabedora soberana feminina. E esta é minha história, contada por mim.
Um dia, sentada num campo cercada de flores, fui surpreendida por Poísedon, deus dos mares, e numa tentativa de escapar refugiei-me no templo de Atena, do qual eu era sacerdotisa, mas essa deusa deixou-me a sorte do destino, e por Poísedon fui violentada. Não bastasse isso, essa deusa, que todos idolatram por ser justa, a mim, impetrou a maior das injustiças, por ciúmes, achando que eu estivesse disputando o amor de Poísedon, fui vítima da vingança de uma deusa que me transformou nesse ser horrendo que sou hoje.
Tenho a cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas, presas de javali e mãos de bronze e com um olhar que a todos que me fitassem em pedra se transformaria. Assim, fui exilada para Ciméria, país da noite eterna. Reclusa em minhas dores e minha raiva, rejeitada, incapaz de amar e ser amada. Na minha ira, alimentei apenas ódio e vingança. Violada e abandonada restou-me uma única diversão sádica, transformar em pedra todos aqueles que se aproximassem de minhas terras. Aí você deve se perguntar, o que esta ser monstruosa tem a oferecer? E eu lhe direi que dentro de mim encerra a cura e a morte, o sangue que bomba pelo lado esquerdo de meu corpo é um milagroso antídoto a qualquer enfermidade e até mesmo ressuscitar os mortos, enquanto o do lado direito o mais mortal dos venenos.
Hoje eu tiro a vida, com um simples olhar e com prazer. E não posso mudar o que sou, com centenas de anos, a loucura tomou conta de minha mente. E em alguns momentos de lucidez como este é que lamento a tortura ao qual fui imposta. Nunca tive o privilégio de ser amada, e isso é o que mais me dói. Muitas vezes, observo minhas estátuas, alguns guerreiros belos e a ultima feição de seus rostos é do mais tenebroso horror, e choro, choro as lágrimas que ninguém jamais vão as ver.
Mas depois me refaço na minha loucura, e destruo todos que tenham a audácia de me enfrentar, sem a menor compaixão. Meu único alívio é saber que sou mortal e suplico dentro de mim que algum dia surja alguém forte e corajoso o suficiente para acabar de vez com esse meu suplicio e que esse seja um dos meus últimos lamentos.

Caro leitor, após essas palavras, como se Medusa orasse pelo seu fim, surgiu um homem capaz de realizar esse feito: Perseu, após ela destruir a cada um dos seus companheiros, este com a ajuda dos deuses arrancou-lhe a cabeça. Ele acreditava que tinha matado um monstro, mas fez muito mais do que isso, libertou uma alma.


Imagem: Fúria de Titans

Rastejante Maldito

Faminto em profunda decadência
e miséria rasteja o trôpego,
em sua desgraçada vida
o indigente apenas existe.

Farejava dor e putrefação,
ao mastigar restos e carniça
nomeado mordazmente:
Rastejante Maldito.

Rejeitado com chorume nas veias
sua carne repuxada sustentava
uma pele cadavérica
que sorria doentemente.

Distante de nossos sentidos
a fantasmagórica criatura
desejava uma vida verdadeira
mas só levou migalhas e surras.

Morreu! Um sem-número de cabeças
observaram seus restos mortais
negando que sua origem
é o mesmo ventre nos pariu.


- Mensageiro Obscuro.
Março/2010.


Foto: "Escolhas" por William A. R. Ferreira.
Portal do artista: Will Artes

23 julho, 2010

Noite Acesa


Minha boca tem o gosto
Do desgosto dos meus amores
Desfeitos...

Meu cigarro vaporoso
Queima os rancores
Dos homens que larguei
Pelo meu caminho

Meus olhos brincam
De vagar sem rumo
Buscando a próxima presa

Meu copo vazio é o fim
De mais uma noite acesa
Levando pra casa ou não
A próxima vitima de minha incerteza.


São Gonçalo, 22 de junho de 2010

Anna Araujo



14 julho, 2010

Baccanale


Vasto mundo, vasto mundo!
Onde caminham num paralelo obscuro
na celebração da carne e dos desejos imundos
a falange devassa de belas succubus.
Sugo da essência pagã,
tua línguas, teus seios,
no enlevo maculado, devaneios,
da mais requisitada cortesã.
Bebemos e nos embriagamos
na taça dionisíaca carnal
o fluído orgástico que jorramos
num brinde cáustico infernal.
A visão dos corpos nus extasiados,
entorpecidos no antro da devassidão
com o clangor hedonista sem cansaço
no limiar análogo de outra dimensão.
Vasto mundo, vasto mundo!
Onde caminham num paralelo obscuro
na celebração da carne e dos desejos imundos
a falange devassa de belas sucubbus.
São Gonçalo, fevereiro de 2005.
.
imagem: Milo Manara.

13 julho, 2010



Se dizias eu te amo,

era de coração na boca,

muito engolia vento de orgulho.


Vestido decotado

trazia umas pernas desnudas.


Pavio acesso

Rodava sua baiana

se fosse preciso.


Ah...se o corpo fervia

comê-la por vezes...de frente,

em pé e de quatro.


Corria nas veias

um sangue latino, erotizado.


Marcava desenhos na pele de amante

com unhas, com dentes

vestígios de boa cama.


Saciação.


E se ainda te lembras,

silencias.


Em luz apagada,

se queda nua:

a cama espaçada,

a sombra de corpo,

encolhida do escuro.

Por Andréa de Azevedo.

09 julho, 2010

No ônibus



Sozinha,
às dez horas da manhã.
Medo do Nada,
momento sutil,
de descuidos muitos,
à meia luz
de uma penumbra.
No ônibus,
tédio pela manhã,
às dez horas da vida
medo da morte
mentiras sutis
múmias vacilantes,
como num quadro
de Gaughin
me espreitam
à meia luz
de uma penumbra
no ônibus sem-fim.

Romulo Narducci

Das sombras da cidade submissa
emerge a pálida figura do poeta
trovejando e chovendo sob o negro manto
que a noite tece para envolver seus filhos.

Os cabelos que lhe restam na cabeça em chamas,
desgrenhados como se buscassem multidireções,
como as ideias de sua mente insana,
como tentáculos de Érato buscando as almas incautas.

Acordes soltos nas paredes, tambores pagãos,
anunciam o advento da poiesis
em cada esquina de paralelepípedos gastos,
em cada amendoeira, canto ou flor.

Romulo Narducci, a sarça ardente da poesia gonçalense,
vem conduzir, após gerações de aridez,
todo um povo ao altar de Baco,
toda uma raça à desgraça e êxtase.

Louvado sejas, espectral trovejador,
Leve te seja a pena, pesados os teus passos!
Evoé, cria dos Anjos e da divina Graça,
Salve a mão que serve o vinho e a poesia!

3/9/9

06 julho, 2010

29.04.2010



Eu não sou eu, por que o eu já não existe
É uma triste mistura de nós e eles,
Que disfarça toda vez que alguém percebe.
Que detona toda vez que alguém arrisca.

O não saber que a gente está sofrendo
Pois toda vez que olha no olho o olhar é fugidio.

Eles simplesmente fingem que estão vivendo
Nós poupamos água e reciclamos lixo!
Ainda somos movidos pela hipocrisia,
E todos ficam felizes com seus sorvetes.

05 julho, 2010

Beltane




Eu canto esta prece de amor
Em honra daquele que virá
Acendo velas e incensos
Unto meu corpo com essências
Enfeito meus cabelos com flores
Em honra daquele que virá
Agora inicio meu ritual,
Me consagro as tradições
Eu canto para ele as preces do amor
Nas chamas das fogueiras
Que rompem a noite escura
Eu oro que tudo seja gentil
Que tudo se ilumine
A grande roda da vida gira,
E espero me entregar
Em honra daquele que virá
Com meu punhal saúdo o leste
Saúdo o sul, o norte e o oeste
Em meio à lua da deusa,
Espero a chegada daquele que virá
É noite de Beltane.
É o sabbat da fertilidade
Celebro a união divina que se manifestará